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A vida é frágil

 

A humanidade deve a Kennedy e a Kruchev a sua sobrevivência, pois se fosse Stalin e Bush que tivessem, naqueles dias da crise dos mísseis, os botões por apertar, talvez não estivéssemos aqui. O risco de uma catástrofe definitiva, enquanto houver uma ogiva nuclear, é inaceitável.


 


Esta ameaça se concretiza na ilusão de que é possível vencer uma guerra nuclear. Assim pensam Paquistão e Índia, Irã e Israel. Agora temos de volta os testes nucleares com a irresponsabilidade da Coréia do Norte, num esforço de afirmação diante do progresso material e cultural da Coréia do Sul.


 


Tive a oportunidade de acabar, junto com Raúl Alfonsín, essa corrida entre Brasil e Argentina. Ela foi sepultada pelas visitas que realizamos eu e o presidente Alfonsín, aos centro de pesquisa nuclear em Pilcaniyeu, na Argentina, e Aramar, no Brasil. As duas bases, cercadas pelo sigilo com que eram conduzidos os programas nucleares, foram repentinamente abertas à visitação dos chefes de Estado.


 


Apesar dos sinais que acontecem a cada momento, vamos perdendo a noção de como é frágil a segurança que temos com os programas da Agência Internacional de Energia Atômica e com o Tratado de Não Proliferação. O TNP permitiu aos cinco países que declaradamente detinham a tecnologia manter seus arsenais. A Rússia e os Estados Unido têm, cada m, mais de sete mil ogivas nucleares, a França, a Inglaterra e a China algumas centenas cada, quantidade capaz de destruir várias vezes a vida na face da Terra. E com sua conivência, tácita ou explicita, eles juntaram-se a Israel (100 a 300 bombas), Paquistão (até 100), Índia (até 100), possivelmente o Irã. A Coréia do Norte, que faz sua entrada formal neste clube, teria até sete ogivas prontas.


 


O tratado bilateral russo-americano, que prevê a redução dos arsenais de cada um dos dois países para algo entre 1.700 e 2.200 ogivas nucleares, até 2012, não prevê a destruição dos mísseis ou das próprias ogivas desarmadas. Segundo a Condoleezza, as bombas desativadas podem ser “destruídas, ou postas de lado para fornecer peças de reposição, ou utilizadas para substituir outras ogivas, ou estocadas”.


 


Ao mesmo tempo, continuam os estudos para produção de bombas de fusão pura, e para a produção de bombas “limpas”, que penetrariam em defesas para explodir em profundidade.


 


A paz definitiva só se constrói sem armas, e não existirá realmente enquanto não acabarmos com a ameaça nuclear. Isto não pode ser um sonho, nem é responsabilidade de um só país: o mundo tem que tomar uma decisão.


 


O que a Coréia do Norte avisa é que a vida é frágil.


 


 


Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 13/10/2006

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 13/10/2006