Seria preciso, a meu ver, que um espírito erudito como o embaixador Meira Penna, autor de obra sobre a mudança de capitais, fizesse um estudo sobre a participação ou não da atmosfera miasmática brasiliense na intoxicação da política brasileira nestes últimos tempos.
Não tenho dúvidas que no Rio de Janeiro seriam difíceis dois cancros , o de Collor e agora o do PT. O carioca reage mais às crises políticas do que o brasiliense, e no caso atual teria, provavelmente, chegado até os maiores responsáveis pelo pântano em que as nossas instituições políticas e administrativas ficaram contaminadas por impurezas de difícil solução. Um sociólogo da importância de Fernando Henrique Cardoso também poderia estudar o vínculo de Brasília com a deterioração ética da política brasileira.
Fui à Brasília a convite do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota para a colocação da pedra fundamental e voltei várias vezes seguidas, inclusive para a inauguração, da qual tenho a fotografia com JK no Palácio do Planalto. Foi memorável o surgimento de uma nova capital naquelas alturas planaltinas, para uma grande nação como o Brasil, pelo sonho de um presidente que prometeu o que ninguém faz: construir uma nova capital e, por sua obstinação, inaugurada em homenagem à Tiradentes, herói da liberdade.
Não se deve negar que estão ocorrendo sérios problemas de convivência política, mas, sem dúvida, contrárias aos princípios democráticos, que podem nos conduzir a um impasse político, social e econômico do qual não teremos como sair, se não por um golpe de Nó Górdio .
Concordo, sem dúvida, que é duro tentar envolver a majestosa capital brasileira em cogitações impuras por desatinos políticos e desenfreada corrupção, como nunca se viu em terras brasileiras. É o que penso a respeito e passo a palavra ao meu amigo Meira Penna.
Diario do Comercio (São Paulo) 22/06/2006