A Holanda é uma espécie de queridinha aqui na Europa, por ser considerada uma injustiçada, desde os tempos do carrossel, da laranja mecânica ou que outro nome dê, ao futebol inegavelmente de boa qualidade, que a tem levado até bem perto de títulos importantes como o da Copa. Há até quem diga que havia esquemas armados para favorecê-la desta vez, embora tudo seja na base da fofoca.
Esquema ou não esquema, contudo, a verdade é que muita gente, principalmente nórdica, não admitia a hipótese de a Holanda vir a perder para Portugal.
Acontece que futebol bonito nós também já jogamos e perdemos. Futebol, não sei se vocês já ouviram isto, é bola na rede. E eu, como nunca tive nenhuma admiração extremada pelo futebol holandês (aliás, por futebol europeu nenhum, basicamente só torço pelo Brasil mesmo), não lamento nada. Aqui na Alemanha, os comentaristas não diziam isto publicamente, mas também preferiam os holandeses a Portugal.
Preferiram mal. É verdade que, no segundo tempo, o jogo quase vira uma batalha campal e a cabeçada que Figo deu num holandês realmente não tem justificativa em nenhuma hipótese, no máximo explicação. Figo é um craque do primeiro nível internacional e devia saber o que estava fazendo, macaco velho que é, nos campos europeus. De qualquer forma, não aconteceu nada diretamente por causa disso e os holandeses também partiram para quebrar as canelas portuguesas e um deles chegou a meter a chuteira na cara de Ricardo, o goleiro português.
Lembrei outros tempos, quando holandeses e portugueses não disputavam futebol, mas vantagens econômicas. As invasões ao território brasileiro, que no século XVII era português, fizeram parte dessa luta, acabaram sendo repelidas (para pesar de muitos que pensam que, se tivéssemos sido colonizados pelos holandeses, estaríamos muito melhor, assim como, por exemplo, Suriname e a Indonésia). Eles foram chutados (com trocadilho) tanto de Pernambuco quando da Bahia.
Lembro o grande padre Vieira invectivando Deus e os santos, em nome das armas portuguesas. O padre chegou a dar esbregues
O Globo (Rio de Janeiro) 26/06/2006