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Eu te pago pra quê?

 

Discute-se muito a estrutura do ensino, em nosso País. A escola deve ser assim, são tantos alunos por professor, olhe a biblioteca, não esqueça o laboratório. Cotas pra cá e pra lá, métodos como o montessoriano, teorias como a de Jean Piaget. E o resultado disso tudo?

Estamos preocupados com o tipo de aluno que sai desse verdadeiro liquidificador. Sobre isso, pouquíssimas discussões. Seria de bom alvitre comparar o aluno de hoje com o de ontem, muito mais respeitoso, embora dispondo de uma soma bem menor de conhecimentos. Os de 30 ou 40 anos atrás não tiveram acesso às inacreditáveis conquistas dos tempos modernos, todas elas naturalmente discutidas em classe, como acontece com as células-tronco, e outras benfeitorias que nos colocam diante da possibilidade da clonagem humana, apesar das restrições de muitas das religiões com as quais convivemos.


Outra característica é o comportamento nos dias de hoje, numa escola. Levantar da cadeira, como prova de respeito, quando entra o professor, nem pensar. Questionar a avaliação é moda, sobretudo nas escolas particulares. Houve uma forte discussão entre uma professora e sua aluna e isso nos foi contado pela primeira delas. A aluna, por sinal bonita, aproximou-se da mestra e reclamou que a última prova foi feita sem que pudessem ser consultados livros usuais. "Assim não vale", disse a jovem, ao que a professora redargüiu: "Quando você se apresentar para um emprego, ninguém vai consultar livro. Você terá que dar as respostas na hora, com aquilo que está dentro da sua cabeça."


Relacionamento


Outros alunos se aproximaram da professora, no intervalo, de forma quase ameaçadora. Era uma escola particular de nível superior. A conversa acabou quando outra moça, de maneira agressiva, reclamando da atitude da professora, gritou a plenos pulmões: "Eu te pago pra quê?" Como não era bolsista, achou-se no direito de fazer esse tipo de agressão, claro que inadmissível. O que se paga na escola não é só para adquirir conhecimentos, mas também para uma boa educação, que será de extrema valia diante das dificuldades da vida. Essa forma de humilhação, hoje corrente, mostra a perda de qualidade no relacionamento aluno-professor. Isso precisa ser revisto.


Convive-se, igualmente, é preciso proclamar, com a ameaça de armas nas mãos de menores. Não raro, são utilizadas para ameaçar ou ferir desafetos, sobretudo nas regiões periféricas. Mas não deixa de ser também um jeito de intimidar os mestres. Fala-se muito na existência desse risco, mas não são tomadas providências. Autoridades sugeriram a instalação de detetores de metal, na entrada das escolas, para prevenir contra esses abusos, mas de concreto nada foi feito. Infelizmente, são hábitos da modernidade e alguns deles adquiridos pelos maus exemplos de fora. A imprensa divulga os crimes ocorridos em outros países - e isso já chegou ao Brasil - para infelicidade nossa. O que nos angustia é a falta de providências oficiais. Mais uma vez, só a edição do estatuto da criança e do adolescente não é suficiente para colher melhores resultados.




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 28/08/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 28/08/2005