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Da guerrilha à Casa Civil

 

O cargo de chefe da Casa Civil tem de possuir no seu curriculum informação sobre sua aptidão política partidária, que estua sempre nesse ministério.


É só nos voltarmos para o passado recente. Golbery, Maquiaveli, professor Leitão de Abreu, intelectual de altíssimos méritos, Marco Maciel, velho militante da política desde a sua juventude no Recife. Como se vê por esses poucos exemplos, a ministra Dilma Roussef não se enquadra nas solicitações da Casa Civil.


Mas o presidente parece que não consultou ninguém e dispondo do império da vontade presidencial, que, segundo Harold Laskio, grande publicista inglês, é mais e menos do que uma ditadura, o presidente escolheu e está encerrado o debate sobre a substituição. A mídia já se refere à ministra como dama de ferro, por lembrança da famosa Mrs. Tatcher, da Inglaterra.


A nova ministra da Casa Civil foi ministra das Minas e Energia desde o início do governo. Não sabemos o que fez ou o que desfez. Eu, particularmente, nunca a trouxe para um comentário. Mas, o que interessa é o seu curriculum , no qual ela consta como ex-guerrilheira, com vários codinomes e atuação decisiva dentro do grupo Val-Pamares que enfrentou os governos dos militares.


Se esse passado não tem importância agora, em que sua atuação é mais administrativa do que política, vamos acompanhar o exercício de suas funções no quotidiano do Palácio do Planalto, colaborando com o governo Lula, do que nos ocuparmos do seu passado, aparentemente para sempre morto, salvo quando algum intelectual de esquerda tentar fazer sua biografia.


O ponto fraco, segundo os comentaristas políticos, é que a chefe da Casa Civil, ao contrário de José Dirceu, não enriqueceu sua personalidade com técnica de política partidária, na qual são ases os mineiros. Essa técnica, que na gíria político-partidária é chamada de jogo de cintura , pode ser aprendida, mas é preciso disposição e, sobretudo, vocação.


Não se sabe se Dilma Roussef tem essa vocação, que pode ser adquirida, embora na categoria de principalmente. O presidente Lula, pelo visto, confia nessa mulher bem dotada e disposta a lutar, como demonstrou contra os governos da época, quando lutou supõem-se com armas na mão.


Romanesco, como no filme de Ingrid Bergman e Gary Cooper, Por quem os sinos dobram . Mas a crise política do Brasil não tem nada de romanesca. É fruto de incapacidade para a atividade política, que é muito mais complexa do que se pensa.


Em todo o caso, vamos acompanhar a atividade da elegante ministra para fazermos as observações julgadas pertinentes. Mas não para se pensar que o comentarista, o articulista, o especialista em política teórica e, pela idade, também prática, tem má vontade com o governo atual, mas apenas que o quer limpo das acusações que geraram a crise em que estamos metidos, pois o governo tem um papel relevante, sobretudo na economia da nação, e, mesmo, em todos os domínio da vida nacional.


Enfim Lula, aparentemente não usou de prudência, virtude da maior importância como ensina Santo Tomas. Decidiu no seu arbítrio, e vai esperar o resultado, não se sabe se no Brasil ou no exterior.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 06/07/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 06/07/2005