Quando prefeito, Paulo Maluf idealizou uma residência de preço baratíssimo, de alvenaria, com sala ligada à sala de jantar, quartos e banheiro, tudo num bloco, para pessoas de baixa renda, com trabalho na cidade.
O sucesso da idéia envolveu milhares de pessoas, que se candidataram a uma casa. De acordo com o regulamento de acesso à casa no Cingapura, foram sendo entregues cada unidade a uma família previamente inscrita. Infelizmente para os interessados, eles mesmos criaram problemas que comprometeram o sistema, tão bem resolvido por Paulo Maluf, com sua experiência de prefeito mais de uma vez.
Agora, o prefeito José Serra descobriu, com a ajuda de seus colaboradores, que vários - não se sabe quantos - venderam a casa e foram para a favela de onde haviam vindo. Esse desastre social, o retorno à baixa condição - em lugar de uma mais alta, a caminho para vida melhor -; essa volta à habitação desumana, à miséria, tem uma força terrível para desfazer boas idéias a fim de combatê-la.
Consta, ainda, da investigação do prefeito José Serra, que também nesse problema se enfiaram os malandros aproveitadores de situações não programadas, por impossibilidade técnica e moral, pelas autoridades do município.
A verdade está, lamentavelmente, com o autor do artigo transcrito do N.Y.Times , que imaginou um manifesto de Karl Max - que ele não nomeia por extenso - isto é, a educação. Inclusive os hiposuficientes, que são milhões, dependem para se comportar diferentemente, no sentido de seus próprios interesses, seria intensificar a educação, assunto muito batido nesta página pelo educador Arnaldo Niskier, meu confrade na Academia Brasileira de Letras.
No dia em que todos os brasileiros tiverem educação apropriada, com alfabetização intensa, difusão dos grandes problemas da cultura nacional, em linguagem simples, mas acessível suficientemente a todos as Cingapuras, poderão voltar e fazerem a felicidade dos casais modestos, até que eles melhorem também na linha da educação.
Nada é impossível, se não se trabalhar com afinco, para se conseguir esse objetivo, um objetivo que cobriria de glória o titular de poder que o realizasse.
Sabemos que nada é fácil. Ao contrário, tudo é difícil, mas o difícil estimula mais que o fácil, sobretudo para os idealistas, os que descobrem Américas e Brasis, que vão à lia, que chegam à lei da relatividade e outras glórias, obtidas nesta idade de secularização da história.
Diário do Comércio (São Paulo) 16/06/2005
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