Somos testemunhas da existência de uma cultura elitizada, para uns poucos. A indispensável popularização da cultura (massificação) é assunto para debate, por imperiosa necessidade.
Ao assumir a Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, recebemos recomendação expressa da governadora Rosinha Garotinho no sentido de caminhar com o projeto de inclusão cultural. Isso envolve a construção de seis cinemas na Baixada Fluminense, a oferta de 250 mil ingressos a R$ 1 a criação da Casa do Samba na Lapa, a distribuição de ingressos beneficiados de teatro por todo o Estado do Rio de Janeiro, e possivelmente a inauguração de um Museu do Carnaval, que sonhamos ocupar o magnífico e bem localizado espaço da Estação Leopoldina, como São Paulo fez com a Estação Júlio Prestes, graças ao apoio da iniciativa privada.
Não se pode sair dando idéias a torto e a direito, sobretudo confiando na existência de recursos orçamentários (a popular e perseguida fonte 00). Nossa criatividade dependerá da efetivação de uma agressiva política de apreensão de recursos das grandes empresas, hoje mobilizadas pela temática da responsabilidade social - e aí existe um grande espaço de conquista de apoios preciosos. É possível recordar que assim fizemos a montagem da "Evita", no Teatro João Caetano, com 268 mil espectadores, numa temporada de sucesso absoluto. O patrocinador também ficou feliz. Recebeu o seu investimento de volta. Maurício Sherman já está pensando no que poderá ser proposto, com a mesma grandiosidade.
Com a preocupação de estabelecer uma verdadeira política cultural, envolvendo a identidade como questão de cidadania, patrimônio e nacionalidade, será necessário valorizar o diálogo entre as diversas linguagens artísticas, a riqueza da diversidade compartilhada, as influências étnicas, a tradição e a renovação, que se expressam nas linhas de ação a serem oferecidas ao nosso povo.
Não será fora de propósito desenvolver estratégias de ação que consolidam o turismo cultural e de patrimônio, de que o Rio é tão rico, em especial nas regiões que possuem monumentos tombados, patrimônio de reconhecida importância histórica e ciclos econômicos que representam uma determinada época de expansão, com suas respectivas heranças socioculturais.
Assim virão as Casas Integradas de Cultura, o Museu da Ciência (provavelmente em Campos), o sistema integrado de bibliotecas (públicas, escolares e privadas), este voltado prioritariamente para iniciativas de incentivo à leitura, criando um amplo programa de informação sobre o escritor brasileiro e suas obras, com a conjugação de diversos meios, inclusive virtuais, promovendo campanhas educativas, festivais de literatura, concursos e prêmios literários (um em especial para homenagear a grande escritora Rachel de Queiroz).
Além do projeto "Fim de Tarde", que voltará ao Teatro João Caetano, daremos total importância ao aperfeiçoamento da língua portuguesa, contando com o apoio da Academia Brasileira de Letras. Se nossa pátria é a língua portuguesa, como afirmava o bardo, é essencial dar-lhe um cuidado prioritário. Temos isso em mente.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 26/01/2004