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Escrita e estilo

 

O Brasil é um país de escritores. Grandes, médios e pequenos. Homens e principalmente mulheres, numa proporção cada vez maior. Aí se inclui o gênero poesia, com adeptos numerosos, como indicam os admiradores de Castro Alves, Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes, entre outros.


Depois de escrever a primeira história infantil em 1986, ocupando a pequena máquina portátil durante cinco horas seguidas, esfalfado, fui dormir. A primeira providência, ao acordar, foi ligar para a querida Rachel de Queiroz e contar para a madrinha a minha façanha. Era um domingo e discutia-se muito, nos jornais, como seria a nova Constituição brasileira.


Rachel, maternalmente, perguntou se eu tinha tempo. Disse que sim e ela me pediu que lesse o trabalho, chamado "A Constituinte da Nova Floresta", que eu pretendia fosse uma sátira política. Ao terminar, o seu julgamento foi piedoso: "Você escreveu um bom livro infanto-juvenil. Pode publicá-lo." Claro que fiquei feliz e fiz à autora de "O Quinze" apenas uma última pergunta: "Rachel, enquanto eu lia, muita coisa não lembrei de ter escrito."


Mais uma vez ela foi paciente: "É assim mesmo. O nosso Adonias Filho dizia sempre que, quando se escreve, com forte influência da inspiração, é como se estivéssemos num estado mediúnico. Só depois se volta ao normal." Mas uma lição ficou no meu espírito, a respeito da arte de escrever.


Pequenas dicas para jovens escritores podem ser encontradas em grandes nomes da nossa literatura, como Mário de Andrade (apesar do seu reiterado desrespeito à gramática). Exemplos:


1. "Se você não fizer coisas maravilhosamente bem feitas, como técnica, como estilo, como arte de escrever, como bom gosto espiritual, você será apenas 'mais um'".


2. "Você deve querer ser tudo e o maior. Só se dando uma empreitada dessas você será honesto, não se deixará levar pela vida, não se contentará com migalhas, não se afrouxará."


Na leitura do "Breve manual de escrita e romance" (UFMG), de Autran Dourado, há outra espécie de lições, todas extremamente válidas:


1. "Prepare-se para aprender coisas incríveis com as pessoas mais inesperadas (até mesmo um gato)".


2. "Você precisa ouvir o batimento do seu coração, para fazer uma bela e contundente metáfora (é uma figura de linguagem a que se chega por um processo implícito de comparação)".


3. "Não há coisa pior do que anão imitando gigante".


4. "Tenha ouvido para a fala popular, evite os pedantes, procure aproximar a norma culta brasileira o mais possível do linguajar do povo do Brasil".


Outras boas dicas para quem deseja se aventurar como escritor é não querer ser eco de ninguém, trabalhar sempre com aplicação e disciplina e compreender que a literatura não é uma arte inatingível. Só assim você, sobretudo jovem estudante, alcançará, na escrita, um bom estilo.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 28/07/2003

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 28/07/2003