Não recorri à Enciclopédia para relembrar quando apareceu o dinheiro. Provavelmente foi inspiração diabólica o seu surgimento e sua entrada em circulação. Na China, no Egito, em Roma.
O que sabemos, revelado pelo Novo Testamento, foi que Judas vendeu Cristo por 30 dinheiros, ou trinta moedas, cujo valor, hoje, não foi apurado, ao que me conste, para fazermos idéia do negócio e quanto rendeu o beijo fatídico.
Seja como for, o dinheiro em nossos dias, com bilhões circulando todos os dias nos grandes negócios, o dinheiro muito ou pouco é um monstro atraente.
Tenho diante dos olhos, e já li a notícia, que a quase totalidade das empresas funciona na anormalidade. Faltando o dinheiro para o pagamento, ao menos, do pessoal que trabalha e as demais despesas inadiáveis, entra em função a informalidade, e o negócio caminha, mantendo a nossa economia, que não é, ainda, robusta, malgrado as dimensões continentais do Brasil.
Confesso que sei, muito bem, que a informalidade é real no Brasil e que a economia nacional depende desse ardil para vencer resistências, que são comuns. O que admira é a coragem de milhares de empresários informais, que sustentam o PIB, na realidade ainda modestíssimo.
A estatística dada ao público na última sexta-feira pela imprensa mereceu a primeira página dos jornais, pela sua importância e para o estudo da estrutura econômica do Brasil. Não obstante os mais altos juros do mundo, o governo, por sua deficiência geral, não corresponde como, por exemplo, o americano ou, se se quiser, o português, nossos metropolitanos há cento e poucos anos.
Na verdade, é o governo mal funcionando que empurra o empresário para a informalidade. Mas, graças a essa maneira de trabalhar e produzir, gerar empregos e produzir a riqueza necessária ao desenvolvimento, só não vamos melhor por não termos um governo eficaz na gestão dos negócios da economia e das finanças.
Enquanto isso, numerosos brasileiros enriquecem e vamos indo, vamos indo, até raiar - como vem no hino - o dia da nossa efetiva independência econômico-financeira.
Diário do Comércio (São Paulo) 30/05/2005