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Um invejável patrimônio

 

O cenário carioca foi palco das correntes mais representativas da música popular brasileira: o choro, por volta de 1870; o samba, nascido em 1917; a canção romântica da Era do Rádio, a canção de fossa das boates e a bossa nova, no final de 1950.


O Carnaval carioca, considerado a maior festa popular do mundo, evoluiu a partir de manifestações de rua como o entrudo, o zé-pereira e o corso, mas a verdadeira explosão foi a partir dos anos 20, quando tomou conta dos salões.


A apoteose do desfile das escolas de samba ganhou, em 1984, o seu templo definitivo: o Sambódromo da rua Marquês de Sapucaí, projetado por Oscar Niemeyer.


Para se ter uma idéia da dimensão do Carnaval carioca, basta dizer que, segundo estudo desenvolvido pela UFRJ, ele movimentou, em 2001, R$ 1,5 bilhão, gerando 60 mil empregos ao longo do ano e o dobro nos três meses que antecederam a festa.


Toda esta pujança musical ganhou força a partir do ano de 1940 com a implantação da Era do Rádio no Brasil, tendo o Rio de Janeiro como centro, irradiando para todos os cantos do país o imaginário carioca através de programas de auditório, concursos de calouros, noticiários, radionovelas, seriados, programas humorísticos e, evidentemente, a transmissão de jogos de futebol. É sempre bom lembrar a paixão provocada pelos times cariocas que se espalhava por todo o país. Outro fato marcante foi a inauguração, em 1950, do Estádio do Maracanã, o "maior do mundo".


O sucesso musical se amplificaria, a partir dos anos 60, ganhando imagem, com a televisão. Para o país inteiro o Rio de Janeiro era uma espécie de modelo, um estilo de vida com que todos sonhavam.


O cinema também contribuiu para esta difusão, na sua fase de produção industrial, principalmente através das deliciosas chanchadas da Atlântida, em que pontificavam comediantes como Oscarito, Ankito e Grande Otelo e galãs e mocinhas como Anselmo Duarte e Eliana e, depois, pelo cinema novo que, já nos anos 50, inspirado no neo-realismo italiano, introduzia a reflexão e o social em nossos filmes, através de obras como Rio 40 graus e Rio Zona Norte, de Nélson Pereira dos Santos.


Não podemos esquecer o teatro carioca, que conquistou o resto do país através das companhias itinerantes. À época, um gênero que tinha a cara da cidade e muito marcou pelo estilo inovador foi o conhecido "teatro do rebolado", que destacou, entre outros, Walter Pinto e diversas vedetes, tornando-as famosas. Virgínia Lane, ainda entre nós, foi uma delas.


A penetração nacional dos jornais cariocas e a força das revistas ilustradas por todo o país, com O Cruzeiro (1940-1950), e Manchete (1950-1970) eram uma janela do Rio para o Brasil, através de suas grandes reportagens aventureiras e desbravadoras, ajudando o país a se conhecer melhor.


Todo esse invejável patrimônio histórico, emoldurado por uma paisagem privilegiada, única no mundo, permitiu que não só a cidade do Rio de Janeiro, mas o Estado como um todo, se afirmassem com destaque no panorama cultural do país.


Uma estatística recente, fruto de uma pesquisa empreendida para medir a economia da cultura do Estado do Rio, traz uma revelação eloqüente, traduzida em números: a participação do setor cultural no PIB fluminense é de 3,8%, contra apenas 1% do PIB nacional.


Estamos no caminho certo!


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 20/09/2004

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 20/09/2004