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Partido dos economistas

 


Dois articulistas da Folha de S.Paulo , Vinícius Torres Freire e meu confrade na Academia Carlos Heitor Cony, escreveram, por coincidência, sobre o mesmo assunto, o "Partido dos Economistas". Cada um no seu ponto de vista, mas coincidindo na tese. A da vitalidade do "partido" e sua ascendência sobre os governos, muito especialmente sobre o governo -acentuo eu - do presidente Lula.


A posição sobranceira dos economistas não vem de hoje. Respeito-os, como profissionais, alguns de notável formação, outros menos, mas, no todo, formam uma corporação com o quase total domínio do governo, que está em vias de fazer uma reforma, na qual, não tenhamos dúvidas, não se tocará no "Partido dos Economistas".


Tanta importância é, mesmo, dada aos economistas, que até mesmo elevar o presidente do Banco Central à altura de ministro foi feito, simplesmente, a meu ver, por ser ele o presidente do banco que controla a moeda e o crédito do país, e faz dos juros a movimentação que lhes aprouver.


No Brasil - é bem a verdade - não apenas os economistas agem como um partido, com a força de um partido majoritário e com a disposição de impor o prevalecimento de suas idéias. Outras profissões também se organizam em corporação e agem como corporação. É isto mais do que sabido, mas ninguém quer entrar em choque com corporações fortes e de robusta vitalidade social e profissional.


O partido dos Economistas, louvavelmente objeto de dois excelentes artigos, entrar, também, nessa órbita das corporações, de onde vem sua força, desde o governo dos generais.


No antigo Regime, antes da Revolução Francesa, as atividades econômicas eram todas em corporações de ofício. Em Portugal, para citar um exemplo bem próximo de nós, na Casa dos 24 ou das corporações, mesmo o rei não podia entrar, pois, diziam os mestres e companheiros, "a nossa é a casa dos 24, não dos 25", e o rei não entrava. As corporações atuais são diferentes e exclusivas de profissões, que se organizam e atuam no próprio interesse, embora prestem serviços à sociedade.


Mas, para ficarmos no ponto de vista dos dois ilustres articulistas, a corporação do "Partido dos Economistas" tem tanta ou mais força que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por fazer da moeda e do crédito o que entende ser justo e proveitoso para as atividades econômicas da nação. Tem, aí, um grande tema a discutir.




Diário do Comércio (São Paulo) 14/03/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 14/03/2005