O Brasil passa por um momento de curiosidade internacional. A biografia do presidente Lula, de operário presidente, desperta uma atenção grande e excita indagações. Em seguida, o tamanho do Brasil e sua presença mundial fazem com que sejamos uma potência emergente.
O presidente Lula, numa postura inesperada, tem excepcional gosto pela política externa e tem sido um viajante ávido por aumentar as nossas trocas comerciais. Seu estilo é bem pessoal.
Veja-se o desfile de chefes de Estado deste mês de novembro. Essas viagens internacionais são precedidas de longos períodos de negociações, nos quais os acordos são propostos, discutidos e preparados para serem assinados por ocasião da visita. A rotina das visitas é sempre estafante e monótona para o visitante e para quem o recebe. Elas têm um cardápio que inclui sempre audiências aos três Poderes e banquetes de um lado e do outro. Tudo fixado em fórmulas de cortesia, "seja bem-vindo, nossas relações são boas, mas a cooperação aumentará depois de sua estada em nosso país". Tudo precedido de fichas em que constam os assuntos a serem discutidos. Quando eu viajava ou recebia presidentes, estudava o país, as relações bilaterais e multilaterais, tudo bem organizado num subsídio que se chama "maço", que o Itamaraty prepara sempre com competência.
Com uma boa vontade rara e simpatia, o presidente da China, Hu Jintao, foi recebido pelo Congresso. Com a China, o nosso destino aponta uma grande cooperação e, hoje, já existe uma parceria estratégica. Deng Xiaoping profetizou que o século 21 seria da costa da Ásia e da América do Sul -Brasil, é claro.
Depois foi a vez do presidente Roh Moo-hyun, da Coréia do Sul, ativista de direitos humanos. É um país sinônimo de sucesso. Saiu da quase miséria depois da guerra dos anos 50 para um PIB maior que o do Brasil. Aqui temos uma grande colônia coreana, que, em algumas décadas, será como a japonesa.
Tran Duc Luong é o presidente do Vietnã. Simples, modesto, reflete toda a sofrida história de seu país. Está abrindo a economia de mercado, com a fórmula "doi moi", igual ao capitalismo chinês, mas com o pensamento de Ho Chi Minh. Ele me disse que tinha técnicos de futebol no Vietnã. Disse-lhe que eles não ensinariam como ganhar a Copa.
O presidente da Rússia, o senhor Putin, que nas fotografias sempre apresenta uma cara amarrada, é um jovem simpático, sabe rir, é lutador de judô e tem ares de saber zangar-se. É egresso dos quadros do Estado e tem tido mão forte contra os que querem a independência da Tchetchênia. Tem um gosto grande pelo futebol e sugeriu uma partida entre os parlamentares do Brasil e os russos. Achei boa a idéia - por delicadeza é claro -, mas logo adverti que eu não figuraria na delegação, pois nem para árbitro tenho disposição. Para esse jogo é que o senador Antonio Carlos disse ser imprescindível o senador Ney Suassuna como goleiro.
Para terminar o desfile, Paul Martin, do Canadá, com a luta da Bombardier e Embraer na cabeça.
Como sobremesa, teremos, hoje, o rei de Marrocos, Mohamed 6º, formado em direito e em política, mas soberano pela herança. E, finalizando, Pervez Musharraf, general "reformista modernizante" do Paquistão.
Como diz o Macaco Simão, não é mole.
Folha de São Paulo (São Paulo) 26/11/2004