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Canções do outro mundo

 

Nos 30 anos da morte de Tom Jobim, domingo passado, fui chamado a responder a várias perguntas sobre ele em função de meu livro "O Ouvidor do Brasil —99 Vezes Tom Jobim", lançado este ano. A mais intrigante foi: "Tom ainda exerce influência sobre as novas gerações?". Respondi com outra pergunta: "Por que nos limitarmos a Tom?". E emendei: "John Lennon ainda influencia as novas gerações? Chico Buarque ainda influencia as novas gerações? Burt Bacharach, Henry Mancini, Michel Legrand, Astor Piazzolla, Stevie Wonder, Stephen Sondheim e outros de seus grandes contemporâneos ainda influenciam as novas gerações?"

Todos os citados foram homens que, ao piano, violão ou guitarra, produziram beleza, inteligência e emoção diariamente em forma de música. As canções que deixaram, apenas entre as produzidas nos anos 1960 e princípios dos 70, somam a centenas. Durante décadas, elas tomaram os rádios, vitrolas, trilha dos filmes e, melhor de tudo, o repertório de incontáveis jovens músicos e cantores, que viam nelas parâmetros a serem imitados. E quantos desses jovens eles não terão inspirado a pôr a criatividade acima das considerações comerciais, com a certeza de que a qualidade é que assegura a aceitação ou permanência de uma canção?

É verdade que aquele era outro mundo. Os compositores compunham, os cantores cantavam e só alguns faziam as duas coisas. Uma canção de sucesso gerava dezenas de gravações por outros cantores e músicos. Um disco podia ser prensado às centenas de milhares e passar um ano nas paradas. E suas canções se tornavam a trilha sonora daquele ano e de muitos anos seguintes.

Somente no Brasil, 1975 foi o ano de "Beijo Partido", de Toninho Horta; "De Frente pro Crime" e "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá", de João Bosco e Aldir Blanc; "O Mar Serenou", de Candeia; "Modinha para Gabriela", de Dorival Caymmi; "Refazenda", de Gilberto Gil; "O Mundo é um Moinho", de Cartola; "Lígia", de Tom Jobim. Como 2025 vem aí, isso foi há 50 anos. Vamos ver o que legaremos musicalmente a 2075.

E alguém já se perguntou se as novas gerações querem ser influenciadas?

Folha de São Paulo, 14/12/2024