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Uma ABL para todos

 

Presidência de Marcos Vilaça, que se encerra após dois anos, dinamiza instituição fundada por Machado de Assis

Rachel Bertol

Um show de Martinho da Vila para funcionários e convidados saudou o fim do ano na Academia Brasileira de Letras (ABL), sexta-feira retrasada. Foi um ano agitado por lá, como provavelmente há muito não se via: políticos, como Aécio Neves e Fernando Haddad, empresários, reitores, editores, maestros, jornalistas, atores – enfim, profissionais das mais diversas áreas, famosos ou não, visitaram ou se apresentaram na mais tradicional instituição brasileira de defesa das letras nacionais, fundada há 110 anos.

O ritmo animado foi ditado por Marcos Vinicios Vilaça, que presidiu a Casa nos últimos dois anos (o máximo permitido de forma consecutiva). No discurso de despedida do cargo, quinta-feira passada – quando tomou posse em seu lugar o jornalista e escritor Cícero Sandroni -, Vilaça reiterou que a ABL “deve estar comprometida em ser instrumento a serviço da língua e da cultura”. Disse também que a ABL deve “empregar forças e meios” para trabalhar “esconjurando a mesmice”.

_ Vamos ver agora no que vai dar, temos um novo público, uma nova fase na ABL. Não podemos mais ser uma instituição só de letras literárias e impressas. – afirmou Vilaça sexta-fera, pouco antes de embarcar para Nova York, onde hoje, em homenagem ao centenário de morte de Machado de Assis, em 2008, profere palestra sobre o autor de “Brás Cubas” a convite da união de escritores da cidade.

Na sua opinião, a ABL deve se voltar para as humanidades. “Se não for Assis, ficaremos à janela vendo o tempo passar”, disse Vilaça no seu discurso.

Em seu esforço para se abrir à sociedade, trabalhando por uma casa “convivial, dialogal, nada confidencial”, como gosta de dizer, Vilaça, além de receber pessoas ilustres nos domínios do Petit Trianon (a sede no Centro), criou o seminário “Brasil, brasis”, que discutiu temas inéditos na instituição centenária, como futebol, telenovela e culinária; reativou o portal na internet da ABL; e conseguiu levar a cabo o programa de doação de livros. Foram cerca de 70 mil volumes doados a comunidades carentes, escolas e bibliotecas públicas em todo país e até para o programa de empréstimos de livros do metrô carioca.

_ Quando cheguei na presidência encontrei o estoque de livros para doação parado. Havia dificuldade de distribuição, mas pude estabelecer parcerias. Arranjei quem pagasse o transporte. – contou Vilaça, que, nestes últimos dois anos, não chegou a se afastar de suas funções como ministro do Tribunal de Contas da União. – Outra novidade foi o apoio que recebemos do empresariado que ajudou muito a Academia. Isso foi muito importante. Obtivemos patrocínio para o “Brasil, brasis”, por exemplo: foram 16 sessões com convidados de todo Brasil e do exterior. Agora que as portas foram abertas, não vejo por que essas iniciativas teriam fim. Todos se orgulham muito de trabalhar com a ABL.

Outras iniciativas marcantes de sua gestão foram a reforma do Teatro R. Magalhães Jr., que antes era um simples auditório e agora já pode abrigar shows como o de Martinho da Vila, peças teatrais e sessões cinematográficas; a renovação do centro de imagens (que ganhou moderna ilha de edição); e a compra de equipamentos para o arquivo (onde estão guardados documentos de todos os acadêmicos).

_ Quem é vivo aparece, e a ABL apareceu. Talvez não tenha aparecido do jeito que todo mundo gosta, mas eu só posso dizer que sou um apaixonado e me dediquei com paixão à Casa.

O Globo (RJ) 17/12/2007

18/12/2007 - Atualizada em 18/12/2007