O leitor provavelmente já ouviu falar do termo “infodemia”, utilizado pela OMS em janeiro deste ano, e também por diversos veículos de comunicação e por pessoas públicas renomadas.
No documento da OMS temos: “A CREC ajuda a prevenir infodemias (quantidade excessiva de informação sobre um problema que dificulta a identificação de uma solução) [...].”
Assim como temos “infografia” [radical info- (deduzido de informação) + -grafia] ou pandemia [pan- (‘todos, a totalidade’) + -demia (do grego dêmos ‘povo’ + o sufixo -ia, formador de substantivos da terminologia médica], podemos ter “infodemia”, para indicar neste momento a ‘propagação em massa de informações, muitas delas falsas, sobre a pandemia do coronavírus’. O vocábulo também foi usado pelo chanceler italiano Luigi Di Maio, que alertou que uma “infodemia” estaria prejudicando a economia e a reputação do país.
É sempre importante lembrar aos falantes como funciona uma língua, e para isso vamos examinar quatro aspectos: o primeiro deles é perguntar se o termo foi criado segundo os princípios que regem a formação de palavras antigas e modernas no nosso léxico. Segundo, se a criação traduz com eficiência a ideia que quis transmitir quem a empregou. Terceiro, se, para traduzir a mesma ideia, o idioma não dispõe de palavras antigas e mais expressivas. Quarto, se o fato de não existir um termo no dicionário é prova suficiente de que não deva ser criado ou de que constitui um erro o seu emprego.
Nenhuma língua histórica tem toda a extensão de seu vocabulário refletida nos dicionários. Um idioma a serviço de uma comunidade está sempre numa mudança, de modo que nunca tem esgotada a infinita possibilidade de renovar-se, e ampliar-se, se seus falantes e sua cultura se renovam e se enriquecem.
Se não tem tradição no idioma, “infodemia” está de acordo com aquilo que alguns linguistas chamam a “virtualidade” ou “potencialidade” do idioma, isto é, aquilo que, ainda inédito, está conforme com as regras do sistema linguístico.