Bolsonaro fez bem em não ir a Davos. Não havia lugar para ele. De um lado, Trump ocupou o espaço de líder dos negacionistas da crise ambiental; de outro, Greta Thunberg, a quem o capitão desprezara xingando-a de “pirralha”, brilhou, afirmando-se como líder mundial da mobilização dos jovens pela defesa do clima.
Sim, porque tudo indica que a sueca de 16 anos não é exceção, mas tendência, ou seja, ela é a representante do grupo de ativistas pós-milênio que forma uma geração de rebeldes com causa, que é a defesa do meio ambiente. Dito de outra maneira, elas são o que o presidente americano chamou em sua fala no Fórum de “profetas da desgraça e das previsões apocalípticas”.
Na plateia, estava a “pirralha”, que ficou lisonjeada, porque todos sabiam que, embora não tivesse sido nomeada, a indireta era para ela. Em vez de se ofender, sentiu-se importante. Afinal, atribuem em grande parte à sua presença e atuação o fato de o Relatório de Riscos Globais 2020 considerar as mudanças climáticas como a maior ameaça ao mundo.
Nascidos em um mundo já conectado pela internet, esses jovens cresceram em ambiente dominado por redes sociais e smartphones e, por isso, são super-informados. Adaptados naturalmente às plataformas de streaming de áudio e vídeo, eles são o que alguém classificou de primeiros nativos digitais. Exagerando um pouco, só um pouco, Greta sozinha já deve ter lido mais livros do que Trump e Bolsonaro juntos.
Tenho um exemplar precoce dessa “geração Z” na família. Alice, minha neta de 10 anos, quando descobriu que a avó não sabia qual era o wi-fi da casa, reagiu inconformada, num misto de espanto e crítica: “Vó, você é analógica!!”. Também criticou a mãe de seu pai, que se empolgara por um feito do caçula Eric: “Deixa de ser machista, vó!”
Atenta à crise econômica, ela um dia chamou a atenção do irmão que brincava fazendo barulho: “Você está atrapalhando papai. Se ele não trabalhar, não ganha dinheiro e, se não ganhar, a gente vai morar debaixo da ponte”.
Não precisava ser tão dramática.