Segundo a nossa tradição carnavalesca, o ano só começa nesta Quarta-Feira de Cinzas e, segundo a astrologia, ele será regido por Júpiter, o que soa até como uma boa notícia, pois o planeta é o senhor da abundância e do crescimento, enquanto 2017 foi dominado por Saturno, senhor da paciência e das restrições.
Mas não sei se Júpiter, com todo o otimismo que o cerca, vai dar conta das questões pendentes. São tantos problemas herdados que 2018 já é conhecido como “o ano das incertezas”, principalmente na política, cujo evento mais importante, as eleições, ainda não sabe quais serão os candidatos à Presidência. Nem sobre o mais bem colocado em todas as pesquisas hoje se tem certeza de que participará da disputa. “O que será de Lula?” É a pergunta que mais se faz. Há várias hipóteses, inclusive a de que será enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que ele próprio sancionou em 2010. Neste caso, muito provável, veremos repetir como paródia, evidentemente, a lenda de que a guilhotina não teria poupado seu inventor, guilhotinando-o.
Mas a equipe de advogados do ex-presidente não desiste de reverter o jogo, principalmente depois que contratou no segundo tempo um reforço de ninguém menos que Sepúlveda Pertence.
Por meio de incessantes recursos em todas as instâncias, além de pedidos de liminares e habeas corpus, a defesa pretende percorrer todos os caminhos, diretos ou tortuosos, do nosso nem sempre previsível Judiciário, e questionar decisões e atos que supostamente teriam violado dispositivos constitucionais. A meta imediata é evitar a eventual prisão de Lula, que, com sua habitual modéstia (“ninguém na história deste país” é mais honesto do que ele), já disse que a nação está diante do seguinte impasse: preso, vira um mártir; solto, será presidente.
Se 2018 só tivesse o “caso Lula” como desfecho indefinido, já daria dor de cabeça suficiente. Mas existem outras preocupantes incógnitas. O que vai acontecer com a reforma da Previdência, por exemplo? Será que o governo conseguirá comprar todos os votos de que precisa para aprovar o projeto, que, com tantas mexidas e deformações, tem tudo para vir a ser um Frankenstein?
Há ainda as incertezas no campo da economia, da segurança, da cultura, da Lava-jato e até no futebol neste ano de Copa do Mundo. Para pôr fim à dúvida de um leitor: quantos presos Gilmar Mendes vai soltar este ano? Como sou um profeta do passado, só sei quantos ele já soltou em 2017: mais de 20, sendo que o empresário Jacob Barata Filho, o rei dos ônibus, recebeu o benefício três vezes. O ano promete.
Tomara que a gente não venha a sentir saudades de 2017.