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Gasto ou investimento?

 

A conferência sobre a reforma da educação, por mim realizada no Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, por sugestão do ex-ministro Ernane Galvêas, provocou uma saudável discussão entre os seus membros. A começar pelo historiador Arno Wehling, que criticou a omissão das nossas escolas que não ensinam os alunos a pensar, de modo crítico e inteligente.

Sobre recursos para a educação, a escritora Mary del Priore lembrou que o governador Chagas Freitas, no período 79-83, permitiu uma boa performance à Secretaria de Estado de Educação e Cultura, colocando 33% do orçamento nessa função essencial. Lembrei, como ocupante da Pasta, que inauguramos 83 novas escolas e a historiadora fez referência a aumentos salariais de até 1.000% naquele período. Foi uma atenção completa ao magistério fluminense.

Depois, veio à tona a discussão sobre gastos ou investimentos em educação. O tema foi provocado pelo embaixador José Botafogo Gonçalves. Segundo ele, “a educação, além de ser um direito constitucional, é também um dever a ser cumprido”. Ele aprecia a expressão gasto com a educação, o que não é o meu caso. Considero gasto sinônimo de desperdício e estou na companhia de alguns dos nossos melhores dicionários. Segundo o meu velho amigo Antenor Nascentes, gastar é consumir, destruir, desbaratar, desperdiçar. Investir é aplicar capitais (do latim investire).

Se recorrermos ao Aurélio (outro velho amigo), veremos que gastar é devastar, arruinar, desperdiçar. Investimento é aplicação de dinheiro com o objetivo de obter ganho. Simples assim.

O ex-ministro Delfim Netto, com a sua reconhecida competência, tem escrito a respeito do tema. Em artigo recente, na Folha de São Paulo, criticou o que considera uma coisa pitoresca: o empobrecimento do papel da educação como fator econômico. Ao contrário, defende a tese de que devemos enriquecê-la.

Voltando ao embaixador Botafogo Gonçalves, ele considera que por trás do simpático conceito de investimento esconde-se o perigoso demônio do desperdício. Cita o Brasil de hoje: “O descalabro fiscal ocorreu porque o governo se escondeu por detrás das políticas de investimento. Investiu-se em inclusão social, em PAC, em saúde, educação, ciência e tecnologia e o resultado foi a pior recessão do século XX: 12 milhões de desempregados e 13 milhões de analfabetos.”

Pode ser que tudo seja uma questão de semântica. Prefiro ficar com o que dizem os dicionários e culpar as míopes distorções políticas pelos erros cometidos. É por isso mesmo que receio as ameaças de retirar os vínculos constitucionais obrigatórios dos programas de educação e saúde. Se as coisas andam mal assim como se encontram, imaginem se terminar a obrigatoriedade. É o melhor caminho para que o caos tome conta de todo esse processo.

Diário da Manhã (GO), 31/08/2016