Para um cronista, a falta de assunto não é o pior: muito assunto é mais letal. Pessoalmente, prefiro a falta de assunto, que me dá liberdade e imaginação. Excesso de assunto implica uma escolha nem sempre adequada.
É o caso de hoje. Prisão de um ex-ministro de Lula e Dilma, devassa na casa de uma senadora que lutou destemidamente pela inocência de Dilma, o começo do fim da União Europeia, cuja mecânica virá em cascata, acabando com a tentativa da criação dos Estados Unidos da Europa. Velhas disputas entre a França e a Inglaterra, que podem ser resumidas na preferência dos ingleses pelo rosbife e dos franceses pelo alho.
O Brasil também oferece assuntos em excesso. Além da corrupção, que parece não poupar ninguém, temos um superavit de estupros maior do que o superavit das finanças nacionais. A incerteza da Olimpíada pode construir uma imagem do Brasil cada vez pior. Contudo, não devemos nos desesperar. O presidente Costa e Silva deixou-nos um exemplo admirável.
Viajando de avião para a Europa, perguntou ao piloto onde estava naquele momento. O piloto respondeu que, três horas após a decolagem, estava sobrevoando o Ceará a 10 mil pés de altura.
O presidente, que hoje é nome de uma ponte, ficou admirado e confessou com entusiasmo: "Eu sabia que o Brasil era grande, mas não sabia que era tão alto."
Que o Brasil é grande todos nós sabemos. Tem dimensões continentais. Quanto à altura, fica mesmo por conta do ex-presidente que assinou o AI-5, que negou tanto a grandeza como a altura do Brasil.
A Lava Jato ameaça transformar o Brasil numa imensa jaula onde todos ficaremos presos e difamados. Mesmo assim, teremos o inefável consolo de usufruirmos, como companheira de cela, uma distinta senadora do PT que lutou bravamente contra o impeachment de dona Dilma.