O título desta crônica é uma citação do romance de Lampedusa, "Il Gattopardo", que teve brilhante adaptação para o cinema feita por Luchino Visconti, com um elenco internacional e, como pano de fundo, o plebiscito que anexou a Sicília ao Estado que Garibaldi estava unificando e criando: um novo país que seria a Itália que hoje conhecemos.
Evidente que houve muita contestação, brigas, revoltas, até mesmo a ameaça de guerra civil. Mas o personagem mais lúcido do romance diz uma das frases mais famosas da literatura e da política, colocando a questão no ângulo histórico que nos guia até hoje: "É preciso mudar para que tudo continue o mesmo".
Todos os países, desde a remota Antiguidade, passaram por isso. Mesmo as revoluções mais radicais e escoradas em princípios modernos e baseados na busca de uma sociedade mais justa e organizada politicamente, não escaparam do DNA daquele boneco de barro do qual foi feito o primeiro homem.
Este DNA não precisa nem merece pesquisa e interpretações, somente existe e marca a trajetória feita por homens. Às vezes se mistura com DNAs aparentemente contrários.
De tempos em tempos, os homens e regimes se matam, se esfolam, queimam cidades e livros, acreditando que estão preparando uma nova terra onde correrão o leite e o mel que nunca darão para todos.
Bonito e bem escrito editorial da nossa imprensa condena a dicotomia Dilma-Temer, propondo novas eleições que resolvam a dramática e até certo ponto hilariante crise que atravessamos.
A menos que sejamos invadidos por extraterrestres bem-intencionados e que todas as noites regressem ao estado gasoso, ou anjos que deem paz aos homens de boa vontade, aos quais não me incluo. Também não incluo Dilma, Lula, Dunga, Trump e o pessoal do Estado Islâmico.