É mais fácil prever o futuro do que entender o passado. Evidentemente, em visão panorâmica. Em detalhes, o futuro será sempre enigmático, daí o lugar comum formado e firmado pelo veredicto dos séculos: o futuro a Deus pertence. O diabo é que a própria ideia ou noção de Deus vem do passado mais remoto, e sua existência e poder são discutidos ao longo da história: "Primus in orbe Deos fecit timor" (Petrônio). O medo criou o primeiro Deus. Frase que alguns autores da antiguidade clássica repetiram com as mesmas ou outras palavras, mas com o mesmo sentido.
Eliminando a ideia de um Deus todo poderoso, praticamente o passado não pode ser entendido em qualquer questão histórica ou ontológica. Os acidentes ou incidentes podem ser explicados de diferentes ângulos, desde a descoberta da América até as Guerras Púnicas e a possibilidade de Eduardo Cunha ter ou não ter dinheiro na Suíça.
Poderia dar exemplos sobre a dificuldade ou impossibilidade de entendermos o passado, há tendência de se adotar a versão oficial: o Brasil foi descoberto ou achado? Maradona fez gol com a mão numa Copa do Mundo? Quem inventou o avião, Santos Dumont ou os irmãos Wright? Confúcio viveu mais de 800 anos? Dúvidas até na ficção: Capitu traiu Bentinho?
Quanto ao futuro, mesmo eliminando profetas e mães de santo, a loteria federal, placares de futebol e taxa de inflação, sabemos que um dia vamos morrer, o Brasil não tomará jeito, a baía da Guanabara nunca será despoluída, o Complexo do Alemão, no Rio, jamais será pacificado. No Nordeste não choverá e, em São Paulo, choverá muito.
Os mosquitos continuarão a transmitir doenças, as propinas serão cada vez maiores e as cadeias ficarão cheias de dirigentes petistas. Nada a temer: no futuro, seremos o país do próprio futuro.
Imprimir