Em crônica antiga, tentando definir Copacabana, considerei o morador mais importante do bairro o poeta Carlos Drummond de Andrade e o menos importante um anônimo que, depois de beber bastante, ia para o meio da rua e ficava berrando: "Olha a crise!", Olha a crise!". O poeta me corrigiu: "O mais importante não sou eu, é o outro cara".
Mais do que o profeta, o poeta não prevê o futuro: é uma espécie de contemporâneo do futuro. No complicado tempo que atravessamos, Drummond antevia o futuro, embora no singular. Temos crises, e não uma crise isolada para olhar: crise política, crise econômica e crise de poder.
A Constituição estabelece três poderes, que devem ser independentes e harmônicos. Progredimos nesse setor: temos o poder da Polícia Federal, o Poder Legislativo, o poder jurídico, o poder econômico, o poder das ruas e os poderes de cada ministro do STF. Todos mais ou menos dependentes da procuradoria geral do Estado, do TCU e dos desastres que provocam lama "" que lembra a queixa de Getúlio Vargas antes de se suicidar: o mar de lama. E há ainda o poder subterrâneo das forças ocultas.
Julgando-me entendido –eu, que nem mesmo me entendo –alguns desinformados me perguntam no que vai dar isso tudo. Respondo com outro poeta do mesmo nível de Drummond: "Que rumor é este? O vento sob a porta. E que rumor é este agora? Que anda o vento a fazer lá fora? Nada. Como sempre, nada." (T. S. Eliot, em tradução de Ivan Junqueira).
No meu tempo de criança, havia um joguinho muito usado para substituir o cara ou coroa. Chamava-se porrinha. Três ou mais meninos botavam a mão para trás e cada um dizia o número da soma dos dedos que iriam mostrar: três, cinco, sete. Quando não havia dedo algum para ser somado, todos diziam: "Lona". Equivale ao nada de T.S. Eliot.