Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > O Oriente Médio se reencontra

O Oriente Médio se reencontra

 

O longo e penoso acordo nuclear entre os Estados Unidos e o Irã é marco fundamental do legado de Obama à convivência internacional do nosso tempo. É a aposta sobre o largo prazo, com impactos decisivos no Oriente Médio, no rebalanço essencial das relações entre sunitas e xiitas. Não é outro o pano de fundo, e nesse momento quer-se estabilizar, de vez, o mundo muçulmano na área crítica de suas tensões. A busca desse novo modus vivendi traz o governo de Teerã ao âmago desse jogo de forças, e serve de contraponto, ao mesmo tempo, às visões da Arábia Saudita e de Israel sobre a área, ambos a condenar o enlace entre Obama e Rouhani. Não é preciso salientar o seu efeito na mobilização palestina e no fortalecimento do grupo Hamas, a partir do resguardo das suas fronteiras. 

O acordo já teve a aprovação do Conselho de Segurança da ONU, mas o que, curiosamente, emerge no plenário dos Legislativos tanto dos Estados Unidos quanto do Irã é uma rejeição ao tratado pelas suas maiorias conservadoras. É também significativo que, até agora, os democratas não saíram na defesa do presidente e Hillary se mantenha num esquivo silêncio sobre a temática. O dado crítico é que, a despeito dessas maiorias tradicionalistas, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, já manifestou inequivocamente o seu endosso ao acordo. O novo lance diplomático envolve, também, o apoio à Síria, em contraposição ao Isis. Não é outra a peça crítica do xadrez na região, na suspeita de um reforço do antagonismo da Arábia Saudita face à estabilização iraniana na área. De toda forma, a vitória de Rouhani, agora, reforça o quadro dos reformistas no governo de Khamenei, em claro freio ao perigo do fundamentalismo, reforçado pelo insulamento de Teerã nos últimos meses. Não seria outro o caminho em que a modernização se impõe, sem volta, e põe à prova os vetores ideológicos do nacionalismo tradicional, na pragmática imposta, por exemplo, agora, ao governo grego, para além de todo neocolonialismo financeiro e do sacrifício das autodeterminações nas políticas emergentes do desenvolvimento.

Jornal do Commercio (RJ), 24/07/2015