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Girando em torno dele

 

É engraçado Eduardo Cunha dizer que o juiz Sérgio Moro “pensa que é dono do país”, logo ele que vem agindo como se quisesse ser pelo menos o dono de Brasília, que parece girar em torno dele, pois faz e acontece desde que chegou lá como um obscuro ex-aliado de Garotinho, ex-auxiliar de PC Farias na Telerj e, nas costas, o peso de algumas ações na Justiça. Demonstrando imensa capacidade de mobilização, conquistou a presidência da Câmara, derrotando o candidato oficial e tirando o sossego da presidente Dilma a partir do momento em que foi acusado pelo consultor e lobista Júlio Camargo de ter recebido US$ 5 milhões em propina do esquema de corrupção da Petrobras. Em estado permanente de beligerância e usando a tática de se defender atacando, ele se voltou primeiro contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que em parecer ao STF informou ter “elementos muito fortes” para investigá-lo. Cunha revidou alegando perseguição por “querela pessoal” e disparou contra Janot, citando outros casos para colocar sob suspeita sua imparcialidade.

Depois, anunciou rompimento político com o governo e se declarou na oposição, como se até então tivesse estado ao lado do governo. Sempre dizendo que o seu gesto não ia “afetar a relação institucional”, nem significava o “fim da governabilidade”, ele rejeitou a “bandeira branca da paz” oferecida pelo líder governista na Câmara, dizendo que não estava de “fuzil de guerra”. No entanto, já autorizou a instalação de CPIs incômodas para o Planalto, como a do BNDES e a dos fundos de pensão. Também já prepara terreno para votar as contas de 2014 da presidente, que devem ser julgadas em agosto pelo TCU.

E mais. Ao afirmar que aceita sem problema uma acareação com Camargo, impôs uma condição: “(...) aproveita e chama o Mercadante e o Edinho Silva para acarear com o Ricardo Pessoa e a Dilma para acarear com Youssef" (o doleiro). Se não bastasse, na última sessão antes do recesso parlamentar, Cunha providenciou o despacho que pede a atualização dos onze pedidos de impeachment da presidente. Finalmente, para não se achar que esqueceu, Cunha entrou anteontem no STF com recurso para tentar afastar Sérgio Moro da Operação Lava-Jato.

O vice-presidente Michel Temer minimizou as bravatas do seu colega de PMDB, classificando-as de “crisezinha política” que não atingiria as instituições. Será? Já Dilma nunca teve ilusão em relação às intenções de seu aliado infiel. Com fama de vingativo e implacável com os desafetos, entre os quais inclui jornalistas e veículos contra quem já moveu mais de 50 ações, Eduardo Constantino da Cunha ganhou um apelido que não pode ser publicado sob pena de incômodo processo.

O Globo, 22/07/2015