A estabilização do governo aponta o novo radicalismo, senão o extremismo oposicionista, tanto quanto a definitiva tomada de posição do petismo no tocante à política de mudança e, sobretudo, diante da corrupção. O antagonismo extremado isolou da prática totalidade do PSDB movimentos como o "Brasil Livre" e os "Revoltados Online", que chegam, mesmo, a acusar de traição Aécio e FHC, na desistência do pedido de impeachment de Dilma. Consolidou-se, ainda, a certeza de frustração em qualquer volta à praça depois dos minguados resultados do 12 de abril. Mas, de qualquer forma, a estratégia do comando tucano vai a um "cala-boca". Aceitando o processamento jurídico, vai à investigação de Dilma por crimes contras as finanças públicas e falsidade ideológica. Mas depara a tranquilidade da negação desse desfecho pela Procuradoria-Geral da República, na clareza explícita com que a Constituição veda a incriminação de um presidente por crime estranho ao exercício de seu mandato.
Na outra ponta política, o PT já se deu conta do quanto a nova mobilização vai para além da legenda explícita, e envolve a convocação dos sindicatos, numa larga frente popular. 0 novo e o essencial, quanto ao foco das acusações, é a mudança radical das condições de financiamento das campanhas eleitorais.
No núcleo de toda a "Lava Jato" está a retribuição das doações pelo facilitado da contratação das obras públicas pelo concurso do dinheiro empresarial. Os liames desse "boca-a-boca" aí estão, no derrame inédito das propinas da Petrobras, trazendo aos tribunais a simétrica convergência de benesses. Mas o remate desse avanço, e de vez, será a própria democracia intrapartidária, na garantia absoluta das votações diretas para todas as eleições internas do partido. Fica, ainda, a interrogação de se, na renovação da base da legenda, esse voto deverá, também, envolver representação dos delegados sindicais.
No pano de fundo, por força, mantém-se a crença, mais do que a aposta, na torna de Lula nas próximas eleições. O risco novo desse horizonte, entretanto, é o de saber-se até quando a massa desse eleitorado, vinda dos beneficiários do Bolsa Família, se exporá à nova maturação política que proscreve a corrupção - vista erradamente como congênita à mobilidade social - e a clientelização dos recursos públicos.