Caí na asneira de ser jornalista antes do tempo, quando era moço, nada conhecia da vida e da profissão, nem a vida e a profissão me conheciam, nem tinham necessidade disso. Só me recuperei bem mais tarde, quando as coisas mudaram no mundo e em mim mesmo. E verdade seja dita, se o mundo e a profissão mudaram para pior, eu mudei para bem pior.
Após quebrar a cara no ofício, cobrindo delegacias, motins em penitenciárias, enchentes em Petrópolis e Barra do Piraí, velórios de imortais da Academia Brasileira de Letras, no Instituto Médico Legal, onde cometi a façanha de entrevistar um defunto esfaqueado em Brás de Pina, defunto que ainda vivia, estrebuchando embora.
Custei a descobrir o filão mais substancioso do ofício, custei mas descobri. Era o mercado de trabalho nos institutos governamentais e das grandes empresas, estatais ou não, hospedagem em hotéis cinco estrelas, classe executiva nos aviões, isso sem falar na intimidade com funcionários, autoridades e empresários que em momentos de aperto me requisitavam para matérias de emergência.
Profanei a profissão escrevendo um "furo" do Departamento de Águas e Esgotos, sabiamente dirigido pelo engenheiro Amandino de Carvalho, que no dia seguinte faltaria água no Catumbi e bairros adjacentes.
O único favor que me pediam era guardar o sigilo das fontes (ah! as fontes!). A maioria dizia coisas abomináveis, mas exigia o "off". Mesmo assim, consegui ser preso seis vezes durante o regime militar e ser eleito para a Academia, onde me fizeram imortal porque não tenho onde cair morto.
Exemplo famoso de outro imortal, piada conhecidíssima, pediram a Alcindo Guanabara um artigo sobre Jesus Cristo. O jornalista perguntou: "Contra ou a favor?".