Lembro cada frase do livro “Noite”, escrito por Elie Wiesel. É o retrato nítido das recordações do sofrimento humano, do desrespeito a velhos e crianças, da bestialidade a que pode chegar um grupo de pessoas, falando em nome de uma suposta pureza da raça. Não se deve proclamar que o nazismo foi sepultado com a derrota de Hitler. Há manifestações do seu ressurgimento, na violência praticada em diversos países, a pretextos distintos.
O escritor romeno Elie Wiesel foi arrancado das suas raízes para viver o inferno de Auschwitz. O seu registro é dramático: “O inimigo do amor não é o ódio, mas a indiferença.” Ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1986 e hoje percorre o mundo, como mensageiro da paz, condenando a omissão que acaba se transformando numa forma passiva de colaboração.
Faço essas considerações ao tomar conhecimento de que a Federação Israelita do Rio de Janeiro prepara-se para desenvolver um projeto intitulado Museu Judaico, que teria como sede o antigo templo da rua Tenente Possolo, palco de memoráveis realizações. Serão ouvidos sobreviventes dos campos de concentração que conseguiram escapar das câmaras de gás e fornos crematórios.
Ao visitar o Museu do Holocausto de Washington (EUA), além de incríveis depoimentos, não pude deixar de me comover com os milhares de sapatos dos prisioneiros, ao lado de fios de cabelo e sofisticados objetos de tortura. Lembrei, sob forte emoção, do depoimento da minha tia Rosza, que escapou de Auschwitz, fingindo-se de morta, num monte de cadáveres. Ela foi viver em Israel, não gostava de falar das atrocidades, mas mostrava o selo com que foi recebida no campo de concentração: a tatuagem com o número A-19386. Ficou marcada para sempre.
Como jornalista, conheci os campos de concentração de Buchenwald e Dachau, o primeiro na antiga Alemanha Oriental e o segundo na Alemanha Ocidental. Diferiam num ponto: Buchenwald era um campo de trabalhos forçados, onde morreram de fome, frio e sede cerca de 60 mil judeus. Dachau era um local de amplo extermínio, onde a estupidez nazista se fez presente em todo o seu significado.
Volto a Elie Wiesel para recordar que ele estava em Buchenwald quando a Guerra terminou, em 1945. São suas palavras: “É preciso lembrar, mas é preciso também fazer. É preciso ter a consciência do passado, mas é fundamental ter um projeto para o futuro.” Ele vive nos Estados Unidos, mas viaja sempre, com a missão de testemunhar o horror do Holocausto, que alguns antissemitas dizem que não aconteceu ou que sacrificou “apenas” um milhão de judeus, quando se sabe que foram seis milhões. Não há silêncio que se justifique diante do tamanho dessa tragédia.