Não entendo nada de economia, finanças e de coisa pública. E obro bem em nada entender. Pois o que me passa pela cabeça é justamente o óbvio: se o governo sabe que só há dois caminhos, um deles injusto e outro minado pela corrupção, há que reinventar todo o processo político e ideológico.
Se o governo fosse uma emissora de TV, uma loja de eletrodomésticos, uma imobiliária, uma agência de publicidade, um supermercado, esse tipo de raciocínio poderia valer.
Essas coisas (ou entidades) precisam e vivem de uma boa dose de demagogia.
Mas o produto que o governo pretende alcançar –o bem geral do país– não depende da bondade, da simpatia, do talento e da formosura dos governantes.
Não vejo por que se joga no lixo uma solução sensata para adotar aparentemente a distribuição do custo da nação por todos. Esse "todos" não passa de uma metáfora.
Fanático da liberdade, pouco a pouco começo a duvidar da democracia representativa. Liberdade é um direito que nenhum governo ou regime pode tirar do cidadão.
Liberdade é como o ar que se respira sem a poluição de sermos representados (ninguém respira por mim).
A democracia representativa é uma forma de tolerar uma liberdade poluída. Não quero ser livre para votar em fulano ou sicrano, pertencer a tal ou qual partido.
No fundo, a representatividade se transforma numa espécie de assembleia geral de condôminos, onde a maioria toma o poder para representar a si mesmo: a classe dominante.
Mas, para tomar o poder e nele se manter, a representatividade obriga progressivamente a que a popularidade, alimentada pela corrupção, supere os interesses do povo.
Se a tirania é repulsiva e a democracia representativa é a roleta viciada, o que sobra é um cassino que nem chega a ser cívico, mas policial.