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O Concílio e o Kama Sutra

 

Não sou bom em números. Sei apenas que dois é maior do que um, e com esta sabedoria enfrento Euclides, Pitágoras, Descartes e as prestações de contas da Petrobras. Vamos lá. O Concílio de Trento, que deu régua e compasso para a Igreja Católica num momento confuso dos dogmas e da moral, arrolou 71 formas de pecar contra a castidade.

O Kama Sutra foi mais modesto: catalogou pouco mais de 15 maneiras de copular. Perdeu para o Concílio em quantidade, mas ganhou em qualidade. Eis que o suíço Julien Blanc, que viaja o mundo todo fazendo palestras e que acaba de ser expulso da Austrália, acrescentou uma prática não prevista no Ocidente e no Oriente. Segundo ele, pretende vir ao Brasil ensinar os seus macetes.

Um desses recursos não me parece novidade. Diz ele que o macho, para conquistar uma fêmea de qualquer idade e procedência, deve puxá-la pelos cabelos até as virilhas do homem. Dentro de certo ritmo, não lentamente demais, nem depressa. "Virtutem docet, malitiam patrat".

Ele ilustra suas considerações com slides incrementados, desses que passam todos os dias na televisão depois de certas horas. Para o carioca motorizado, que se habituou a assistir corridas noturnas de submarinos, Julien Blanc pregará no deserto.

Além disso, certas praias do nosso bendito litoral são desertas mesmo, sem necessidade de aprender alguma coisa do especialista suíço.

Temos a praia do Diabo, a mais confiável, e as praias do Leme, do Arpoador, os 18 quilômetros da Barra da Tijuca.

Pensando bem, os 18 quilômetros dão para o gasto. O ocidental Concílio de Trento e o oriental Kama Sutra necessitam de uma severa atualização.

De minha parte, não preciso da sabedoria do mestre suíço. Até hoje não me habituei a comer fondue de queijo ou acarajé com caruru.

Folha de S. Paulo (RJ), 16/11/2014