Com a experiência de ocupar a titularidade da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, por duas vezes, sempre tive a minha vista voltada também para o setor primário da economia. Por um motivo muito simples: não entendia porque, com tantas condições favoráveis de clima e solo, devíamos comprar de Estados vizinhos cerca de 80% do nosso consumo. É claro que os produtos chegavam ao Rio com os preços inflados pelos custos do transporte.
A primeira providência adotada foi criar uma espécie de corredor de educação rural, a partir de Teresópolis, passando por Friburgo, Silva Jardim, Cordeiro até chegar a Macaé, Italva, Campos e Itaperuna, sem esquecer as importantes cidades de Valença e Vassouras. Na primeira delas, inaugurei o Centro Interescolar Monsenhor Tomás Tejerina de Prado, que teve boa receptividade por parte dos alunos.
Para tornar concreto o nosso interesse pela matéria, entendi que era importante criar uma escola técnica rural na Estrada Teresópolis-Friburgo, no distrito de Venda Nova. A Secretaria de Educação adquiriu um terreno disponível no km 15 e, assim, nasceu o Centro Interescolar Agropecuário (CIA) José Francisco Lippi. Hoje, com mais de 30 anos de existência, é uma referência da educação rural do nosso Estado, tendo formado dezenas de técnicos especializados no setor primário da economia. Deve-se registrar que a região em que se situa a escola é rica em plantio de hortigranjeiros, sendo grande fornecedora de produtos de primeira ordem para o mercado consumidor do Rio.
No caso de Teresópolis, é preciso considerar as perdas devidas à degradação proveniente da tragédia das chuvas de 2011. Significa dizer que há um campo imenso para estudos relativos ao solo. Ainda há muito a ser feito, pois as providências governamentais ficaram pela metade.
Temos outras revelações para contar, como, por exemplo, o cultivo de heveicultura (borracha) no Educandário Rego Barros, no município de Conceição de Macabu. Jovens internos na escola dedicavam-se a essa cultura, da mesma forma que o Centro Interescolar Agropecuário de Itaperuna produzia tomate, pimentão, verduras, aves de corte e postura, para utilização na merenda escolar também de Porciúncula e Natividade. A produção excedente era vendida na feira, sendo a renda revertida para os próprios alunos do Ciapi.Com a mesma filosofia de trabalho, foram criados outros centros no Colégio Estadual Agrícola Antonio Sarlo (Campos), na Escola Estadual João Andrade (Miracema), nas Escolas Estaduais Baccoparó Martins e Sol Nascente (Cachoeiras de Macacu), no CIA de Cambuci, na Escola Estadual Sabóia Lima (Rio das Flores), na E.E. Barão de Santa Maria Madalena, na E.E. Paulino Fernandes (Sapucaia) e nas escolas agrícolas de Santo Antonio de Pádua e Três Rios, além do município de Cordeiro, onde foram oferecidos cursos de olericultura, cunicultura e inseminação artificial, além de bem sucedidas feiras e exposições agropecuárias. Esse é o registro auspicioso de um momento, no Rio de Janeiro, em que houve preocupação objetiva com a educação rural, com efeitos claramente positivos.
Jornal do Commercio (RJ), 1/11/2013