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10 anos sem Roberto Marinho

 

Ao ouvir o escritor SiJviano Santiago falar de saudade, no Teatro R. Magalhães Jr., não pude deixar de associar o sentimento que nos veio de Portugal à figura do acadêmico Roberto Marinho. Falecido há 10 anos, a Academia  Brasileira de Letras, em boa hora, resolveu homenagear a sua memória, com uma linda exposição que está sendo visitada por milhares de pessoas, especialmente estudantes do nosso Estado.

É uma oportunidade para recordar, como faço agora, alguns fatos da vida do diretor de O Globo, jornal que herdou do pai, Irineu Marinho, ainda jovem e que desenvolveu, ao longo do tempo, a ponto de tornar-se uma das principais empresas de comunicação do mundo. Jornalista, acima de tudo, como gostava de frisar, em nossas idas à casa de veraneio da praia de Mombaça, em Angra dos Reis, na companhia da esposa Lili, sempre extremamente atenciosa, Roberto Marinho teve a visão de uma empresa integrada. Além do jornal criou a Rede Globo de Rádio e, aos 63 anos de idade, iniciou os trabalhos do que hoje é a poderosa Rede Globo de Televisão, a quarta network privada do mundo. A qualidade de sua programação, conhecida como "padrão globo", é motivo de orgulho para os brasileiros.

O saudoso jornalista apostou sobretudo na informação, no conhecimento e na educação, tanto que criou também a notável Fundação Roberto Marinho, que faz sucesso com o seu telecurso, mas não deixa de estender as asas da sua proteção a diversos patrimônios artísticos do País, como fez recentemente com o Museu de Arte do Rio (MAR), hoje uma referência cultural da nossa cidade. Está presente também no Museu da Língua Portuguesa e no Museu do Esporte, em São Paulo.

Na sua exposição, pode-se ler a frase lapidar: "Em toda a minha vida de jornalista, educação tem sido um tema de preocupação permanente. Emerge não apenas de um interesse particular diante do reconhecimento do seu papel básico na elevação do povo, mas da própria experiência direta com os fatos da vida brasileira, de que a imprensa se faz reflexo."

Tive o privilégio de produzir, ao lado de Mauro Salles, o livro intitulado "Dr. Roberto" (Edições Consultor, 2005) que circulou pelo Brasil, contando algumas das características desse homem notável, que teve a sabedoria, ainda em vida, de distribuir entre os filhos o poder da sua grande empresa, de modo a garantir, em harmonia, o seu grande futuro.

Para Roberto Marinho, que hoje reverenciamos, o culto à palavra foi uma preocupação constante. Costumava afirmar: "Posso dizê-lo, sem qualquer ostentação, que a palavra é meu orgulho e meu ofício, o meu desafio e o meu consolo. Se aprendi a dominá-la é porque aprendi, sobretudo, a respeitá-la. Este é o dever primordial do jornalista que não quiser se contentar em ser apenas o escritor do efêmero, mas sim o cronista do seu tempo." Este é o Roberto Marinho que recordamos, com admiração e saudade.

Jornal do Commercio (RJ), 4/10/2013