Muita teoria, às vezes, até atrapalha. Lê-se tanto as obras de autores da modernidade que as ideias se embaralham, com o risco de se perder o rumo das coisas ou o foco do que é mais importante.
Com a responsabilidade de comandar o Centro de Integração Empresa-Escola do Rio de Janeiro, hoje reunindo cerca de 35 mil jovens fluminenses, em quase todos os municípios do estado do Rio de Janeiro, juntei um grupo de dez adolescentes (5 de cada sexo), para uma conversa sem pauta.
Não eram nossos estagiários. Estudam principalmente em escolas públicas e três deles desistiram, alegando total perda de interesse. Perguntei a cada um dos três o que esperava do futuro. A resposta em uníssono é bem esclarecedora: “Não sei, o futuro a Deus pertence.”
Os resultados dessa enquete são terríveis. Quem lê jornal? Ninguém levantou o dedo. Quem lê pelo menos um livro por mês? Ninguém levantou o dedo. O que está acontecendo hoje nas ruas do Rio e de São Paulo? Uma menina só respondeu: “Acho que é um negócio de aumento nas passagens de ônibus.”
Deixei-os bem à vontade, para não induzir respostas. Falei de futebol, em geral eles sabem sobre a seleção brasileira, e aí fiz outra pergunta que não queria calar: “Vocês não veem jornais na televisão, antes das novelas?” Revelaram um nível altíssimo de alienação. Não estão interessados nem naquilo que mexe diretamente com o seu futuro, como cidadão. Sabem um pouco sobre o Enem “porque isso é muito falado na escola.”
Ficamos preocupados. Pode-se questionar o papel dos pais nesse processo. Desinteressados, em boa parte, com o que se passa com a educação dos filhos, mesmo quando se trata de escolas particulares. Isso quando existem lares regularmente constituídos. Quando são desestruturados por separações por vezes litigiosas, aí mesmo é que os jovens passam a cuidar sozinhos da vida, fazendo o que lhes parece o melhor, sem uma orientação adequada. Buscam conselhos nas ruas, seguem maus exemplos de amigos que caíram no desvio, e assim se explica o aumento da criminalidade entre menores de idade.
Pesa, então, sobre a escola a tarefa de corrigir os descaminhos a que eles são levados. Nem sempre isso é possível. Os professores devem dar as suas aulas, ensinar conteúdos, e ainda por cima exercer a dupla função de mestres e pais substitutos. Nem sempre isso dá certo. Assim também pode ser entendida a atual onda de violência nas escolas, com o desrespeito flagrante que existe nas relações entre mestres e alunos. Agressões verbais são comuns e físicas também acontecem. A provocação é uma consequência desse clima de quase beligerância.
Soluções existem, mas não são fáceis. Em 10 anos, aumentou de 12,6% para 16,2% o percentual de jovens cariocas que entre 15 e 24 anos não estudam, não trabalham e não têm empregos disponíveis. Urge enfrentar de forma competente essa realidade, sem discursos demagógicos. O que se espera são medidas concretas, sob pena de termos outras passeatas de 100 mil.
Tribuna de Petrópolis (RJ), 16/8/2013