A reeleição de Barack Obama vinga, na mais dividida e polarizada das eleições americanas. Levou, de imediato, ao alívio mundial, da expectativa da verdadeira globalização compartilhada, e não como resultado da hegemonia de Washington.
Nesse cenário, de saída, poderíamos perguntar: a vitória do presidente, apesar do anticlímax interno de seu governo, fez-se do repúdio ao seu antagonista e à sua pregação do belicismo republicano?
Qual o peso na consciência democrata do perigo Romney, tendo-se em vista a baixíssima prioridade da política externa no país, frente aos problemas imediatos da economia, do desemprego e dos arrochos fiscais? Identicamente, e nesse plano interno, a opção Obama refletiu, também, o contraponto crucial entre o laissez-faire primitivo de Romney e, de vez, o entendimento do papel do Estado na melhoria do "bem-estar" americano, implicando a superação do capitalismo selvagem dos conservadores.
As margens finais da vitória se beneficiaram do simplismo da pregação de Romney e da ausência de um programa alternativo ao de Obama, no que pudesse ser o seu reformismo para chegar, a prazo, ao desmonte do estatismo "welfarista" do presidente. Ficam nos ouvidos as declarações do candidato derrotado, prometendo o cancelamento, no primeiro dia de mandato, do "Obamacare", e a transferência para os estados de todo o programa social e da assistência à terceira idade.
O drama após a alegria trombeteante do dia seguinte à reeleição vem da radicalidade dos antagonismos, já pressentida na vacuidade da retórica de "um país só", após o pleito, e na dificuldade de cooperação, num Legislativo simetricamente rachado, repetindo o impasse do Congresso de há quatro anos.
O republicano só teria se antecipado no escrever o discurso da vitória, impensável o contrário. Mas a América dos rednecks e dos fundamentalistas pode optar pela arregimentação determinada para voltar às urnas, daqui a quatro anos e, de certo, com o physique du rôle e a eficiência do mesmo Mitt Romney.