Volta o hífen a preocupar alguns de nossos caros leitores. Um deles deseja saber como deve escrever tipos de chá, como chá amarelo, chá branco, chá vermelho, pois não os encontra registrados no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), que só inclui chá-preto e chá-verde hifenados.
O acordo de 1990, em dois momentos do seu texto, abre espaço para lembrar grafias de palavras pertencentes a terminologias técnicas e científicas que devem merecer uma proposta de unificação ortográfica na escrita da língua portuguesa, enfeixada essa nomenclatura num outro vocabulário técnico "tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível". No texto do Acordo refere-se aos compostos que designam espécies botânicas (planta e fruto) bem como as palavras "pertencentes aos domínios científico e técnico".
Ora,"chá" estaria ligado ao domínio da botânica e seria hifenado, como o são abóbora-menina, couve-flor, bem-me-quer (planta), se chá amarelo, chá branco e chá vermelho fossem compostos e atendessem à lição do texto do Acordo, como o é também chá-da-índia, arbusto da família das teácias. Como denominação de variedades de chá, "chá preto" e "chá verde" não são compostos, mas sim grupos sintáticos, e , por isso, não devem ter hífen.
Vamos reforçar outra questão que envolve o emprego do hífen, já comentada há alguma semanas: diz respeito ao hífen em "município-polo", e como vem a ser o seu plural. Temos falado aqui em grupo sintático composto, e cremos que chegou o momento de fazer a diferença entre estas duas noções, tarefa nem sempre fácil. Em português, a distinção ocorre por motivações ou critérios fonológicos, morfológicos, sintáticos e, principalmente, semânticos, estes últimos mais fáceis para um não especialista captar ou entender. Um competente estudioso do assunto Antônio José Sandmann ("Formação de palavras no português brasileiro contemporâneo", 2ª ed.,1996), oferece exemplos bem ilustrativos, sabendo-se que o primeiro de cada par a seguir é um grupo sintático, enquanto o segundo é um grupo composto: meio dia/meio-dia(=região sul), pé de meia/pé-de-meia(=economias); boia fria/boia-fria(=trabalhador rural itinerante). Vale recordar um critério auxiliar bastante evidente nestas distinções: no composto, o acréscimo de um modificador (por exemplo, um adjetivo) irá se referir ao composto como um todo, o que não ocorre com o grupo sintático. Em "minicípio-polo recente", o adjetivo recente se refere ao todo município-polo, não se dirá, por exemplo, "município-polo e recente", referindo-se apenas a município.
Quanto ao plural, a tradição da língua, nestes casos em que o segundo substantivo limita a significação do primeiro, regula-se em geral só se flexionado o primeiro elemento, como é o caso de "municípios-polo". Mais recentemente se vai encontrando exemplo com pluralização dos dois elementos: "municípios-polos".