Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Vazios da educação

Vazios da educação

 

A briga pelo aperfeiçoamento da educação brasileira não se limita mais a meia dúzia de abnegados. Hoje, há o generalizado convencimento de que é preciso mudar - e para muito melhor. Os discursos não são originais e esperar por milagres improváveis é deixar o sistema caminhar para um nó inexorável. Quem ganharia com isso?

Nos planos oficiais, os conteúdos, por intermédio das diretrizes curriculares, fizeram dez anos de serviços, alcançando uma estabilidade altamente questionável. Quase nada muda no que se refere ao desenvolvimento intelectual dos alunos, embora permaneça o dispositivo constitucional da aprendizagem como um direito social, devendo ser oferecida com qualidade.

Pudera, as escolas, sobretudo as públicas, operam sucateadas, sem estrutura condizente, e conduzidas por professores justamente desmotivados, em virtude da tibieza dos seus salários. No Brasil há solução para quase tudo, menos para encontrar uma resposta condigna para essa questão que vem desde meados do século passado.

É certo que o perfil do aluno está mudando. Em busca da sonhada empregabilidade, ele reivindica o domínio de línguas estrangeiras modernas e o conhecimento dos mistérios da Internet, cujo domínio passou a ser sinônimo de status. Há um novo e instigante perfil psicológico dos jovens - e isso o Plano Nacional de Educação, que está em discussão no Congresso Nacional, deverá contemplar, mas com uma perspectiva facilmente previsível: não deveremos contar com o apoio total dos mestres nesse processo, pois lhes falta a necessária autoestima.

Foi uma boa iniciativa alargar para nove anos a obrigatoriedade do ensino fundamental. Continuam, como desafios, os lamentáveis problemas da permanência e da conclusão, o que pode perfeitamente explicar os vazios da educação média, que sofre as consequências dos problemas trazidos da base. Muitos jovens dessa faixa etária crucial fogem da escola, com conhecimentos precários.

Muitas vezes se limitam a assinar o nome, caracterizando o que chamamos de analfabetismo funcional. Os conhecimentos de leitura e interpretação não passam de precários. Como pretender alunos críticos, reflexivos e investigativos, se lhes falta o essencial, que é o adequado domínio da língua portuguesa?

Melhorar a educação brasileira pode ser uma utopia? Depende, naturalmente, da existência de uma política séria no setor, conduzida por pessoas competentes e desinteressadas de proveito pessoal ou político. A boa escola deixará de ser uma utopia quando esse quadro se modificar.

A Gazeta (ES), 22/12/2011