Embora o objetivo da viagem fosse a inédita participação na Feira do Livro Infantil de Bolonha (Itália), não poderia me furtar a uma visita à tradicional Universidade de Bolonha, nascida em 1088, e que é a mais antiga do mundo ocidental. Ela hoje se constitui de uma enorme quantidade de prédios de idades variadas, abrigando cerca de 95 mil alunos, em todas as suas modalidades. Com uma particularidade: não há ensino gratuito. A anuidade é em média de 1500 euros anuais, cerca de 3.500 reais, o que permite ajuda decisiva na manutenção da instituição.
Conversei com vários dos seus alunos (a maioria é feminina), na Faculdade de Jurisprudenza (Direito), que funciona no Palácio Malvezzi Campeggi, construído em 500. Estão felizes, gostam do que fazem, e têm esperança de conseguir empregos imediatos, após a conclusão dos cursos. São politizados e têm opinião própria sobre Berlusconi. Não se entendem mesmo é sobre futebol, onde estraham a presença de tantos brasileiros nos principais times italianos. Somos bons de bola, o que fazer?
Os professores da Universidade de Bolonha (“alma mater studiorum”) orgulham-se de dois princípios essenciais: a independência científica e a indissolúvel ligação entre ensino e pesquisa. O seu pioneirismo contagiou diversos outros países europeus, que se basearam no modelo bolonhês, de notório avanço nas fronteiras do conhecimento humano. Não se deve, pois, estranhar que entre os seus grandes nomes se encontrem o famoso Galvani e o Prêmio Nobel de Literatura, Carlucci, que fizeram o link entre a nova cultura italiana e a tradição medieval.
Bolonha deu força ao conceito de Universidade, nos seus gloriosos 900 anos de vida. A partir da famosa Praça Maggiore, os seus prédios se irradiam em todas as direções, promovendo um impressionante fluxo de alunos e professores. Almoçamos uma deliciosa sopa de feijão, num bistrô no meio deles, aproveitando para colher informações que se tornaram preciosas.
Bolonha foi uma das mais importantes cidades etruscas do vale do rio Pó. Cresceu muito o seu prestígio durante o império romano, igualando-se o desenvolvimento urbano ao de Paris. A Universidade foi fundamental na expansão econômica da região, tornando-se importante núcleo industrial e comercial, servindo aos seus quase 400 mil habitantes.
Desde o século 12, mulheres foram admitidas no magistério universitário. Uma das importantes professoras foi Laura Bassi, que se tornou catedrática de Filosofia, em 1733. Outras também brilharam em cadeiras como Lógica, Metafísica, Anatomia, Matemática, Grego etc. A igualdade está presente em todos os seus cursos, hoje em dia, mesmo naqueles que se localizam fora dos limites do campus, como acontece nos estudos de educação ambiental que se fazem na cidade de Ravenna ou no desenvolvimento dos programas de formação de professores, com o foco particular, na Faculdade de Economia, de Saúde, Turismo e Administração. Essas informações foram colhidas junto aos seus entusiasmados alunos. Servem de exemplo.
O Estado do Maranhão, 3/8/2011