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Fale errado, está certo

 

Nada mais representativo da burrice do que essa teoria do falar errado. Foi quando fui presidente da República que universalizei o programa do livro gratuito nas escolas, e o grande problema era a qualidade do livro.

Eu  mesmo, nesta coluna, tive a oportunidade de reclamar de um livro de história distribuído nas escolas, chegado às minhas mãos pela minha neta, um verdadeiro horror pelos erros que ensinava. Hoje todos estão de acordo que a educação é um problema universal. Sem ela, ninguém caminha. E esta começa pela língua. O mundo do futuro não será de países grandes ou pequenos, mas dos que dominarem tecnologia e ciência. Para isso, não estão dispensados de falar corretamente.

A língua é instrumento de unidade e político. É a primeira identidade. Não é por acaso que a Alemanha e a França gastam quantias fabulosas para manter, inclusive mundo afora, o ensino do alemão e do francês. É impossível pensar em matar as suas línguas, deformando-as, sem regras e sem falantes.

É nesse quadro que o Brasil resolve criminalizar quem fala corretamente e quer ensinar a que os outros também o façam. Isto, dizem, é discriminação. Ensinar não é discriminar, a função do professor é ensinar e corrigir.

Discriminar, dizem os dicionários, é "perceber diferenças', 'colocar à parte por algum critério', 'não se misturar', 'tratar mal ou de modo injusto' etc. e tal. Ora, corrigir quem fala errado, chamar atenção para o erro nunca é discriminar. Os teóricos da defesa do erro de gramática são os primeiros que deveriam aprender a aprender.

Uma língua de cultura é uma evolução da língua. Sem regras, ela se toma outra língua, passando por crioulo, dialeto ou outra coisa que se queira chamar.

Defender a língua é defender a pátria. Eis origem da famosa frase de Fernando Pessoa: 'A minha pátria é a língua portuguesa'. Quem for escrever da maneira que desejam alguns novos teóricos da educação —Já que a escrita é a linguagem falada em caracteres— precisa criar uma nova língua.

O dever do Ministério da Educação é defender a língua portuguesa, pois está na Constituição (art. 13) que o idioma oficial do Brasil é a língua portuguesa. Se aceitássesmos a licenciosidade linguística, o próprio Ministério da Educação perderia a sua razão de ser. 'Voltemos ao sistema tribal: cada um fala como quer.'

Quando agora se quer espaço na mídia, busca-se o absurdo. Essa nova polêmica é o 'febeapá' da educação, ao pregar não ser necessário educar e, assim, oficializar a burrice. 'Não discrimine quem fala errado,ele está certo.' Discriminação é chamar quem ensina certo de errado. Só faltava essa, ensinar a falar errado.

Diário da Manhã (GO ), 20/5/2011