Clausewitz, o maior filósofo da guerra, afirmou ser ela uma continuação da política por outros meios. No Brasil Colônia (séc. 16 e 17), no enfrentamento com os índios, até os padres falavam em guerra justa, destinada a salvar as almas dos indígenas do diabo. Anchieta foi um encabulado adepto dessa linha.
Nos tempos atuais, Bush, o novo, com a inteligência que tem, lhe deu sofisticação, confeitou com chantilly, inovou – criando outro tipo de guerra, a preventiva, feita para evitar outra guerra. Resultado: tudo guerra.
Com meu temperamento cristão, pacifista e humanista, todas as guerras são más, catastróficas e sem resultados positivos – e não modificam nada, a não ser curvas momentâneas da história. E o homem inventou coisas terríveis de matança coletiva, desde o timbó das tribos primitivas até as armas nucleares e as bombas de fragmentação, estas que distribuem balas de morte para provocar extermínio de inocentes.
Obama anunciou o término da Guerra do Iraque, iniciada há sete anos para combater o terrorismo e as armas de destruição em massa e para fazer o mundo mais seguro. O único objetivo alcançado foi o pescoço de Saddam.
O fim da guerra também é exótico. Acaba a guerra, mas não acaba. Palavras de Obama: 'Não vamos cantar vitória, nossa tarefa no Iraque não terminou'. Permanecerão 50 mil soldados, e os EUA abrirão 'unidades diplomáticas' em Mosul, Erbil, Basora e Kirkuk.
Envolveram-se na aventura 1 milhão de soldados americanos, morreram 4.247, e 34.268 saíram feridos. A coligação internacional amargou 4.734 vítimas fatais, e o sofrido país invadido perdeu 106.147 vidas.
O Iraque não se tornou democrático nem se transformou em 'aliado eficaz', como sonhara Bush. A Al Qaeda ali se instalou, e o Iraque ficou à mercê da influência do Irã, com quem tem seu maior comércio e que é o guia da maioria xiita – dois terços da população que tem o verdadeiro comando do país.
Sem eles (xiitas e Irã) não se forma governo, como não foi constituído depois das últimas eleições. O terror continua intenso, e tudo aponta para um único futuro: o Iraque será um país teocrático, satélite dos aiatolás do Irã.Somos um mundo mais seguro com a guerra terminada que não terminou?
Aqui, nossa guerra que não acaba é diferente: a dos sigilos fiscais de todos os brasileiros, que são vendidos a R$ 1 mil na praça da Sé de São Paulo, com grande surpresa para a mídia, que julgava só ela ter essa informação.
Lembro o Golbery: 'Segredo só não conta quem não sabe'. E alguns setores da Polícia Federal confirmam esse pensamento.
Folha de São Paulo, 3/9/2010