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Deng e Bolívar

 

A autoestima volta. E isso que nos diz o Latinobarometro, que faz periodicas afericoes sobre a America do Sul, com a bencao da ONU, atraves do PNUD. Certa vez escrevi aqui a perplexidade em que o barometro nos colocava ao mostrar que o nosso povo nao aprovava a democracia e preferia um governo autoritario que lhe desse boa vida.


Agora, varios anos pesquisando, e possivel mostrar que estamos mudando, nao somente o Brasil, mas nossos vizinhos. Ha um grau de satisfacao com a familia, a vida, o pais, o mundo, achando que tudo esta melhorando. Os numeros sao tao altos que assustam: 94% estao felizes com suas familias e 75% dizem que o Brasil esta no rumo correto.


O pessimismo esta desaparecendo e aquela historia do mau humor com nossa terra esta ficando para tras. Diminui a miseria, a classe media aumenta e o sentimento e de que demos adeus ao pessimismo, o velho cacoete de que estamos a beira do abismo.


Dizem os pesquisadores que as zonas dos emergentes sao as unicas do mundo em que isso acontece. A velha Europa afunda numa tristeza de dar desgosto. Os Estados Unidos nao sairam da sua crise economica e surge outra crise: a existencial.


E possivel estabelecer mesmo uma regra de que, quando voce acha o mundo melhor que seu pais, e desejo de emigrar. Ja o contrario nos leva a ser um pais de receber imigrantes. O Brasil agora ve os que emigraram voltando, achando que as coisas aqui estao melhor que la fora.


Ate os EUA se beneficiaram desse clima brasileiro. Nos, que tinhamos uma permanente idiossincrasia com eles, ja os vemos (74%) de uma maneira positiva. Ja com o Japao baixamos para 64% e em relacao a Uniao Europeia a 62%.


Cambian las suertes, como dizem os espanhois. No tempo em que governei, o grande problema era tentar acabar com o forte sentimento antiamericano. Hoje, alem de ter boa opiniao deles, 67% creem que eles tem respeito ao Brasil.


Outro dado interessante e que sao dos jovens os mais altos indices, mostrando que veem a vida com menos emocao e mais razao. Sao menos criticos e ja ultrapassaram aquela fase de que ser jovem e ser revolucionario e revoltado.


Confesso que nao sei se e um bem ou um mal, como dizem os chineses na sua visao das contradicoes. Foi a velha juventude das utopias que moveu o mundo para melhorar. Vamos em frente. China, Brasil, India, Russia, Africa do Sul vivem sua melhor fase.


Hora dos emergentes, a cultivar esperancas e certezas sobre o futuro. O Barometro tambem nos avisa que a Venezuela e onde os mais altos indices de pessimismo resistem no continente. Ponto para Deng Xiaoping.


Folha de S. Paulo, 16/7/2010