À margem do turbilhão de emoções da Copa do Mundo, que podem molhar os olhos ou acelerar o coração, e favorecido (para alguma coisa haveria de servir!) pelo isolamento parcial a que um acidente me condena, vou medindo e remedindo fatos a ela relacionados.
Sobretudo aqueles que venham a nos sugerir adequações para 2014. Não vou falar do reordenamento urbano, aparelhamento dos transportes, implantação das arenas esportivas, segurança, que são ostensivamente os maiores desafios a resolver.
Cuido em observar o que se faz e haverá de fazer obstinadamente em capacitação de recursos humanos. Sem eles, apenas aparelhar materialmente as doze praças esportivas resultará numa quase apoteose do nada, mesmo que elas mais se unam que se separem.
Parece que foi Guimarães Rosa quem disse ser Deus a paciência e o contrário dela, o diabo. Pois bem, peçamos ao Deus paciente para iluminar os responsáveis pela preparação dosrecursos humanos. A paciência para recrutar corresponderá a escolhas bem feitas.
É muita gente para lidar com muita gente. Brasileiros para atender a brasileiros e a não brasileiros, em inúmeras necessidades. Motoristas, enfermeiros, cozinheiros, telefonistas, ascensoristas, arrumadeiras, guardas de trânsito, policiais suaves e policiais duros, guias de trânsito, sei lá mais o quê. E profissionais afeitos em línguas diferentes do português. Não é nada fácil, se o que se deseja é habilitação com qualidade.
Nos meus tempos de menino se dizia que a qualidade é o busílis. Pois desse busílis o Brasil tem quem saiba lidar. O Senac - o Sesc, também, claro - é a experiência aplicada em formação profissional de rara competência.
Tenho conhecido melhor, a partir dos estudos e reflexão dos dirigentes e técnicos há algum tempo sediados no excepcional complexo da direção nacional dessas instituições localizado na Barra - Rio de Janeiro, de que são capazes.
Aquilo lá não é um complexo imponente de edificações, mas uma baseoperacional de ensino muito eficiente. Ali está aninhado o cérebro que deve operar o trabalho de capacitação dos profissionais necessários aos serviços da Copa. Felizmente o Senac existe e atua.
Ao tempo em que estive no corpo deliberativo do TCU nunca poupei gesto ou voz para rebater tentativas de certa "estatização" do sistema Senac/Sesc. Via nisso um engessamento burocrático, que findaria por arruinar a plasticidade de suas atuações.
Esse perfil mais dionisíaco e menos apolíneo é que pode ser vital para o papel que lhes cabe como formadores de quadros a suportarem os atendimentos de que carecemos para um digno desempenho de sede do mundial de futebol.
O Comitê da Copa, se já não o fez, que trate de chamar o Senac.
Jornal do Commercio (RJ), 29/6/2010