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A educação do Brasil em 2016: os mesmos erros?

 

Não se trata de exercício de adivinhação. Nem de data aleatória. Penso no Brasil das Olimpíadas de 2016, ou seja, daqui a facilmente previsíveis seis ou sete anos. Por exemplo: ainda teremos 14 milhões de analfabetos puros? O vestibular ficará na saudade? E os salários dos professores estarão próximos de uma remuneração decente?


São referências a fatos que nos incomodam. Como é o caso da educação de até três anos de idade. É preciso que especialistas estrangeiros venham gozar as delícias dos trópicos e nos “ensinem” o que estamos cansados de saber? Josué de Castro e Nelson Chaves, ambos de Pernambuco, cansaram de chamar a atenção das autoridades para a necessidade de cuidar adequadamente (sobretudo com alimentação) dessa crucial faixa etária, quando as conexões cerebrais se organizam para sempre.


Vivemos hoje sob o estigma da baixa qualificação escolar. Não é um fenômeno somente brasileiro, pois o presidente Barack Obama, que afirma ter escolhido a esperança em lugar do medo, investe US$ 500 bilhões anuais em educação. Está impressionado com a má performance de 5 mil escolas norte-americanas e as notas medíocres alcançadas nos exames internacionais (Pisa) de matemática, por exemplo: os Estados Unidos ficaram em 35º lugar, enquanto o Brasil alcançou o 54º, numa competição de 57 países (ano-base 2006).


No Brasil, existe uma clara mortalidade infantil pedagógica. O abandono escolar é uma realidade, embora o governo tenha estimulado a valorização da escola por intermédio de ambiciosos projetos sociais, como o Bolsa Família, que hoje alcança população de 12 milhões de pessoas, sobretudo no interior do país. Partindo do princípio de que “conhecimento é poder”, luta-se para reformar os currículos das escolas, abandonando a rigidez secular de currículos que não mais condizem com as necessidades dos que vão buscar de imediato o amparo no mercado de trabalho.


Pode-se registrar claro retrocesso, nos últimos 15 anos, mas a reação se nota pela vontade política de valorizar a avaliação mais do que nunca presente no processo ensino-aprendizagem. Busca-se política de valores e não só de resultados: a classe média alta brasileira raciocina em níveis muito inferiores, por exemplo, aos europeus.


Correio Braziliense, 14/1/2010