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Artigos

  • Diante do computador

    Escrever um livro é uma das atividades mais solitárias do mundo. Uma vez cada dois anos, vou para frente do computador, olho para o mar desconhecido de minha alma, vejo que ali existem algumas ilhas – idéias que se desenvolveram, e estão prontas para serem exploradas. Então pego meu barco - chamado Palavra - e resolvo navegar para aquela que está mais próxima. No caminho, defronto-me com correntezas, ventos, tempestades, mas continuo remando, exausto, agora já consciente que a ilha que pretendia chegar já não está mais em meu horizonte.

  • A derrota e o guerreiro

    O guerreiro da luz sabe perder. Ele não trata a derrota com indiferença. O guerreiro despreza a atitude da raposa de La Fontaine, que dizia sobre as uvas fora de seu alcance: “Estão verdes”. Um guereiro da luz aceita a derrota como uma derrota – e não tenta transformá-la em vitória. Amarga a dor dos ferimentos, a indiferença dos amigos, a solidão da perda.

  • Oração e poesia

    "A tradição dos monges cristãos do deserto fala do ato de orar:"Vá para um lugar silencioso e deixe sua alma se ajoelhar. Não pense em nada, apenas se entregue. Transforme seu desejo no desejo de Deus. Se você fizer isso por duas semanas, cinco minutos por dia que seja, o amor supremo se manifesta”.

  • Tempo, tempo

    Existe um exercício de meditação que consiste em acrescentar, durante dez minutos por dia pelo menos, um motivo para cada uma de nossas ações cotidianas. Um exemplo: "Eu agora leio o jornal porque quero me informar. Eu pensei agora em tal pessoa, porque tal assunto que li me levou a isto. Eu andei até a porta, porque vou sair de casa para trabalhar". E daí por diante. Buda chama isto de "atenção consciente". Quando nos vemos repetindo a mais comum das rotinas, nos damos conta, através de detalhes, da riqueza que cerca nossa vida. Compreendemos cada passo, cada atitude, cada gesto. No fim de uma semana, estamos mais conscientes de nossas distrações e de nossos passos. E isto nos deixa mais fortes.

  • O belo e o simples

    No Japão, participei da conhecida "cerimônia do chá". Entra-se num pequeno quarto, o chá é servido e nada mais. Só que tudo é feito com tanto ritual que uma prática cotidiana se transforma num momento de comunhão com o Universo. O mestre Okakusa Kasuko explica: “A cerimônia é a adoração do simples. Todo seu esforço se concentra na tentativa de atingir o perfeito através dos gestos imperfeitos da vida quotidiana”. Se um mero encontro para beber chá pode nos transportar até Deus, o que dizer das outras oportunidades que acontecem todo dia e não nos damos conta.

  • Amor e solidão

    Todos nós precisamos de amor. O amor faz parte da natureza humana. Muitas vezes, nos sentamos diante de um belo pôr-do-sol, a sós, e pensamos: "Nada disso importa, porque não posso compartilhar toda essa beleza com alguém." Nesses momentos, vale a pena perguntar: quantas vezes nos pediram amor e viramos o rosto? Quantas vezes tivemos medo de nos aproximar de alguém e dizer que estávamos apaixonados? Cuidado com a solidão. Ela vicia tanto quanto as drogas. Se o pôr-do-sol parece não ter mais sentido para você, seja humilde e parta em busca de amor.

  • Ousadia e importância

    Um carpinteiro e seus auxiliares viajavam pela província de Qi, em busca de material para construções. Viram uma árvore gigantesca. “Não vamos perder nosso tempo com esta árvore”, disse o mestre carpinteiro. “Para cortá-la, demoraremos muito. Se quisermos fazer um barco, ele afundará, de tão pesado”. O grupo, então, seguiu adiante. Um dos aprendizes comentou: “Que árvore inútil”. “Você está enganado. Ela seguiu seu destino. Se fosse igual às outras, já a teríamos abatido. Mas porque ousou ser diferente, permanecerá viva”, ensinou o sábio mestre-carpinteiro.

  • O eremita e o vizinho

    Joshe passou anos sozinho meditando numa caverna. Solitário, ele vivia com pouquíssimos recursos, procurando levar a existência mais simples possível. Os donos do terreno em que ficava o local ficaram compadecidos com sua dedicação e por isso enviaram-lhe um recado: iriam visitá-lo e aproveitariam para fazer algumas doações. Ao saber da notícia, Joshe arrumou toda a caverna, preparando-se para a visita. Quando terminou a limpeza e viu como tinha ficado o lugar, desesperou-se e começou a perguntar: “Quero impressionar a Deus ou aos homens? Não quero parecer melhor do que realmente sou.” Em seguida, começou a sujar tudo novamente, jogando inclusive um pouco de terra sobre o altar do deus Zyuk. Pouco depois, Zyuk apareceu para Joshe e disse: “Assim você nunca vai melhorar. Há momentos em que precisamos da mudança. Torne a limpar tudo e não me atire terra, mas as flores do seu coração.”

  • Para ver o herói

    A aventura está lá fora. O herói, o homem comum, é sempre chamado. Ele fica aguardando o mensageiro: existe um tesouro a ser descoberto, uma princesa encarcerada. A vida nos dá duas oportunidades para vivermos nossos sonhos. Mas e o mensageiro? Geralmente ele está vestido com roupas que não agradam: pode ser uma mudança de emprego, um rompimento amoroso, uma doença. Pode ser um encontro ou uma conquista, mas estas coisas acontecem no meio da jornada do herói, raramente no início. O segredo consiste em ter bons olhos para reconhecer o mensageiro.

  • A melhor espada

    "Quem é o melhor de todos no uso da espada?", perguntou o discípulo. O mestre Merton respondeu: “Vá até aquele campo. Ali existe uma rocha. Insulte-a”. “Por que devo fazer isto? A rocha jamais me responderá de volta!”, disse o discípulo. “Ataque-a com sua espada”, ordenou Merton. “Minha espada se quebrará. E se atacá-la com minhas mãos, ferirei meus dedos. Minha pergunta era: quem é o melhor no uso da espada?”, insistiu o discípulo. “O melhor de todos é o que parece com a rocha. Sem desembainhar a lâmina, consegue mostrar que ninguém poderá vencê-lo”, esclareceu o mestre.

  • O ponto acomodador

    Em um dos meus livros (O Zahir), procuro entender por que razão as pessoas têm tanto medo de mudar. Quando estava em pleno processo de escrita do texto, caiu nas minhas mãos uma estranha entrevista, de uma mulher que acaba de lançar um livro sobre – imagine o quê? – amor.

  • Simplicidade

    Shibumi é uma palavra japonesa difícil de traduzir, pois seu significado é abrangente. Meu mestre a utilizou certa vez para descrever um jantar simples, mas delicioso, que comemos numa aldeia francesa. "Os japoneses usam esta palavra para qualificar sua arquitetura. Shibumi significa a total simplicidade, que de repente é quebrada por um arranjo floral, um vaso decorado, um detalhe que enfeita todo o ambiente", explicou ele. Por causa disto, a beleza das casas japonesas (aparentemente vazias) é muito mais sofisticada que a beleza das casas ocidentais, sempre cheias de pratarias, objetos, quadros, enfim, uma verdadeira confusão visual. Um bom Guerreiro da Luz precisa ter shibumi: simplificar sua vida, mantendo o detalhe, a elegância e a delicadeza", finalizou o mestre. Um verdadeiro Guerreiro precisa simplificar a vida mantendo a elegância e a delicadeza em todos os seus atos.

  • O sábio e a memória

    Um sábio chinês caminhava por um campo de neve quando viu uma mulher chorando. “Por que choras?”, perguntou. “Porque me lembro do passado, da juventude, da beleza que via no espelho. Deus foi cruel comigo porque me deu memória. Ele sabia que eu ia sempre recordar da primavera da vida e chorar”. O sábio ficou contemplando a neve, com um olhar fixo. “O que estás vendo?”, perguntou ela ao sábio. “Um campo de rosas. Deus foi generoso comigo porque me deu memória. Ele sabia que, no inverno, eu poderia sempre recordar a primavera e sorrir”.

  • Coragem

    Durante uma guerra civil na Coréia, certo general avançava implacavelmente com suas tropas, tomando província após província, destruindo tudo o que se encontrava pela frente. O povo de uma cidade, ao saber que o general se aproximava, fugiu para uma montanha. As tropas acharam as casas vazias. Depois de muito vasculhar, descobriram um monge zen que não havia partido. O general mandou chamá-lo, mas o monge não obedeceu. Furioso, o general foi até ele: “Você não deve saber quem eu sou! Sou aquele capaz de perfurar seu peito com a espada sem piscar os olhos!”. O mestre zen disse: “O senhor tampouco deve saber quem eu sou. Sou aquele capaz de ser perfurado por uma espada sem piscar os olhos”. Ouvindo isso, o general curvou-se, fez uma reverência, e se retirou.