Em dez minutos, com apenas duas pessoas à frente na fila, tomei ontem minha primeira dose da vacina CoronaVac. Acho que um recorde, devido às chuvas. Antes, relatos davam conta de até duas horas de espera. Eu disse “primeira dose” me referindo à Covid-19, porque sou um veterano na matéria; me vacinava como rotina desde quando não era notícia em jornal. Na minha época, a moda era fotografar a Primeira Comunhão.
Quanto a mim, só cheguei até aqui são e salvo graças a Deus e às vacinas. Tomei umas 15 — contra sarampo, caxumba, catapora, rubéola, poliomielite, coqueluche e, claro, gripe. Ia ao posto de saúde regularmente em Ponte Nova e depois em Nova Friburgo, arriava as calças ou levantava a manga da blusa e recebia a picada na nádega ou no braço sem dar um pio. Confesso que preferia sempre dar o braço.
Ontem tive que ir com meu filho, Mauro, por exigência de minha mulher, mãe judia. Ela achava que eu podia tropeçar e cair. Recomendo o ritual a todos, inclusive aos mais jovens, quando chegar a vez deles. Não dei sorte de esbarrar com Fernanda Montenegro e o casal Lucy e Luiz Carlos Barreto, que foram do grupo anterior. Ziraldo é hoje.
Se a “palavra do ano” de 2020 foi disputada por termos negativos como coronavírus, pandemia, quarentena e confinamento, a de 2021 já é, pelo que encerra de esperança e promessa no mundo todo, a otimista vacina, acessada quase 50 milhões de vezes no Google.
Ela não é apenas um antídoto contra a Covid-19, o que já seria muito. Pode-se considerá-la como metáfora — além do sentido literal, ela carrega vários significados. É tão polivalente que atraiu ações criminosas, contra as quais o Projeto Comprova, sem fins lucrativos, reúne 28 veículos de comunicação brasileiros para investigar e denunciar informações enganosas e deliberadamente falsas, as fake news, sobre o tema, compartilhadas nas redes sociais.
Por outro lado, para alguma coisa de positivo a pandemia serviu. O Brasil não é mais o país apenas do futebol, mas também de craques da ciência — epidemiologistas, infectologistas, pneumologistas, microbiologistas. E de “times” como CoronaVac e AstraZeneca/Oxford. Siglas como IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) passaram a ter sua importância conhecida. Até ministros negacionistas foram recepcionar o primeiro lote desse insumo fabricado na China. Pois é, quem diria?
Vocês já repararam que se fala mais de Margareth Dalcolmo do que de Neymar? Ainda bem. Ela está com a bola toda, principalmente depois que foi eleita a “mulher do ano” por seu trabalho. Na pessoa dessa admirável cientista, a homenagem aos profissionais da saúde, os heróis e heroínas dessa batalha.
P.S.: Esqueci de dizer que, pelo menos até agora, não virei jacaré.