Os oito anos de governo do presidente Lula marcaram um novo tempo na História do Brasil. Ao feito de um operário ter atingido a Presidência da República, finalizando um processo em que todas as classes tiveram a oportunidade de dirigir o país. Lula somou o grande sucesso econômico e social de seu governo. Este sucesso, por sua vez, impulsionado por sua capacidade de diálogo e habilidade de negociação, levou o Brasil a mn novo protagonismo no cenário político internacional.
Passou o tempo da Guerra Fria, em que os países faziam suas opções num sistema maniqueísta, vendo os Estados Unidos como o Tio Sam, o símbolo e a expressão do imperialismo capitalista. Com o fim do imperialismo comunista, depois da queda do Muro de Berlim, o mundo passou a ter uma nova conformação, dominado pelo desastroso Consenso de Washington, que anunciava o fim do Welfare State e o vale tudo dos mais ricos, que rodavam o mundo na bolha do mercado. Neste mundo neoliberal o universo dos especuladores não hesitou, mais de uma vez, em jogar com as commodities alimentares, levando a fome aos países mais pobres.
O desastre de 2008 foi o grande aviso de que as teorias do Estado mínimo e do vale tudo no mercado de capitais, da moral do lucro, estavam — e estão — erradas, tanto que tiveram de recorrer ao Estado, socializando os gigantescos prejuízos que pararam a economia mundial. Lord Keynes volta com força a ser uma referência fundamental do capitalismo moderno, e a necessidade do Estado como instrumento de justiça social a ser repensada.
Em meio a esses desafios, o presidente Lula levou o Brasil a uma posição de liderança, reivindicando novas relações entre os países mais ricos — o G8 — e os países em desenvolvimento e mais pobres. Formou-se assim o G20, com papel relevante nas negociações multilaterais. O Brasil é hoje uma referência mundial, que não é mais ignorada.
Neste contexto se explica a visita do presidente Barack Obama ao nosso país, anunciada para março. Para o governo americano trata-se não só de sinalizar o desejo de uma aliança estratégica entre os dois países, como de restabelecer a importância de nossas relações comerciais. Os americanos superaram, felizmente, a ideia infeliz da implantação da Alca. Importa mais para eles equilibrar o avanço da China na América Latina e especialmente no Brasil.
Para o comércio brasileiro os negócios com a China são especialmente relevantes, mesmo que contenham o desequilíbrio essencial de sermos quase exclusivamente exportadores de matérias primas e importadores de manufaturados. A China, com seu crescimento vertiginoso, tem um efeito de arrasto sobre a economia dos países em desenvolvimento, contribuindo em muito para os resultados expressivos com que ultrapassamos a crise de 2008.
No mais, Chávez vai ficando sozinho para lançar seus slogans antiamericanos, num discurso que deixou de fazer sentido e só lhe serve para um discurso vazio e de retórica pobre.
Brasil Econômico, 26/1/2011