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Violência e escola

 

O Brasil vive todo tipo de violência. É um verdadeiro laboratório. Seja por motivos de desigualdade social, falta de empregos, vagas nas universidades para os mais pobres ou, como no caso de drogados da classe média, o avanço nos patrimônios alheios para promover ganhos que permitam a compra dos diferentes tipos de narcóticos.


O fenômeno, entretanto, não é apenas nacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, mata-se a torto e a direito, sem que aflore uma causa evidente. Pode ser a neurose da guerra localizada, a bebida, a droga, mas o que será mesmo que desencadeia essa violência, sobretudo nas escolas? Já não se trata apenas de agredir professores, o que se torna cada vez mais comum. O que se generaliza é a entrada de indivíduos nas escolas, como aconteceu recentemente no interior da Pensilvânia, numa comunidade religiosa amish, para matar cinco crianças, ferir outras sete e depois dar um tiro na cabeça. De onde virá tamanha compulsão?


No Brasil tornou-se comum a bala perdida. Em geral, não se sabe ou não se apura de onde veio. Morre uma criança aqui, outra professora ali, e as ações se banalizam, o que é a pior das reações. Tenho em mãos um importante documento sobre a matéria. Trata-se do livro Violência nas Escolas, da especialista Mirian Abramovay, da Universidade Católica de Brasília, editado pela Revista Iberoamericana de Educação (nº 38). Segundo ela, "a atmosfera violenta da escola afeta o exercício profissional da equipe técnico-pedagógica. Esse ambiente influi na percepção que os alunos têm do espaço físico da escola. O resultado disso tudo é a baixa qualidade do ensino."


Remédios existem. Um deles é a troca da Cultura da Violência pela Cultura da Paz, como apregoa há tantos anos a Unesco. Seria um vasto programa dentro e fora da escola, dependendo da região em que se situe. Pode-se partir da idéia da "incivilidade" social, o que pode explicar, por exemplo, a dificuldade de operação escolar em comunidades dominadas pelo tráfico. Quantas escolas, no Rio de Janeiro, são levadas a cerrar as portas, em determinados momentos, por ordem direta dos chefes do tráfico? Se morre um bandido, as aulas são suspensas, como se estivéssemos respeitando o fim de uma grande personalidade da nossa vida pública. É uma completa inversão de valores.


Além da situação econômica, que pode ser considerada a grande causa, há situações tópicas que são capazes de desencadear violência, como certas medidas disciplinares mal graduadas, atos agressivos entre alunos e professores, grafitti, danos físicos à escola e regras de organização escolar pouco explícitas. A carência de recursos humanos e materiais, assim como baixos salários de uma forma geral, insuficiência de diálogo entre os membros da comunidade escolar e a escassez de interação com a família podem ser considerados elementos de grande relevo, afetando a capacidade de concentração nos estudos, a existência de alunos cansados e os que perdem o interesse de comparecer à escola (abandono, evasão e repetência). Há múltiplas e diversificadas formas de encarar o problema, que hoje é razão de justa preocupação dos nossos educadores.


Jornal do Commercio (RJ) 15/12/2006

Jornal do Commercio (RJ), 15/12/2006