Para trás Frankfurt, agora é Munique. Não posso honestamente dizer que fico com saudade. Não por causa de Frankfurt, grande centro de negócios e finanças, mas que tem lá seus charmes, alguns um pouco escondidos, que valem a pena conhecer.
A razão principal é um tal hotel da cadeia Dorint, nas cercanias de Frankfurt, mas, na verdade, situado numa cidadezinha chamada Sulzbach. Um dia antes da partida, uma das delegações jornalísticas brasileiras, numa das quais está incluído o locutor que vos fala, quis voltar a seus quartos, mas as chaves, os cartões magnéticos que abrem as portas, tinham sido desativados.
Descemos para resolver o problema, mas, como certamente a Dorint tem os brasileiros na conta de ladrões (vai ver que aqui lêem o noticiário político da gente), informaram-nos que não tínhamos pago nada e, portanto, não podíamos entrar nos quartos, nem mesmo para pegar um papelzinho com os números de telefone do pessoal que, como sabíamos, já tinha pago a despesa. Levou um tempinho para convencer as alimárias que tripulavam a recepção, mas nos fizeram a grande caridade de permitir que pegássemos o papel. Nossa bagagem ficaria como garantia de que não sairíamos sorrateiramente, de volta para as pitorescas florestas tropicais onde vivemos na companhia de índios, jacarés e piolhos.
E, pior ainda, o encarregado de pagar a conta não estava no hotel, na hora do fuzuê. Quase entramos em pânico e quase pagamos (o que, sem dúvida o hotel aceitaria, caso em que os ladrões seriam eles, pois na Alemanha também tem ladrão) tudo do nosso bolso, antes que chamassem a polícia, ou qualquer coisa assim. Mas aí, já sem a cara de vocês-são-uns-vigaristas estampada antes, o mané tedesco veio nos confessar que o engano era deles. Eficiência germânica. Se algum dia um de vocês ficar num Dorint, cuidado com a carteira e cheque as contas escrupulosamente.
Mas deixemos o roubo frustrado para lá, hoje é dia de canguru. Posso quebrar a cara novamente, como quebrei na minha previsão do placar contra a Croácia, mas insisto em minhas teses científicas: da mesma forma que com a Croácia, é contra as leis da Natureza a Austrália ganhar do Brasil. Não ganha nem do nosso sapo cururu, que eles importaram para controlar uma praga qualquer, mas que evoluíram para uma variedade de pernas alongadas e muito mais mobilidade, e agora é outra praga. Não fica bem para quem está na tribuna da imprensa e é difícil achar um boneco de cururu aqui, senão eu levava um para sacudir no estádio. De qualquer maneira, uma boa simpatia para o jogo de hoje é vocês gritarem “cururu!”, na hora em que eles forem para o ataque. Com umas duas coaxadas, a gente resolve o problema.
O Globo (Rio de Janeiro) 18/06/2006