Belo e estranho livro, este de Mário Divo. Amor e Paixão são temas permanentes sobre os quais nos curvamos, inquietos às vezes, outras na maior esperança e a maioria delas na incerteza. Os milhares de livros já escritos sobre os dois assuntos (serão sinonimamente únicos ou todo um mundo os separa?) nem sempre nos ensinam como lidar com eles.
Pois aqui está um meio de os entender e aceitar. Indo aos clássicos, indo à sabedoria dos tempos. Stendhal dedicou ao "Amor", sob este mesmo título, um estudo químico, físico e, para muitos, liquidou o assunto, já que esses muitos acham que tudo está ali dito. Mas o próprio Stendhal tirou de si mesmo as paixões que jogou no "Vermelho e o negro" e "A cartucha de Parma", sentimentos eternizados, que abalam os mais recônditos arcanos do amor. Para outros, o amor se escapa tanto das análises stendhalianas como das inúmeras outras feitas por autores menos credenciados.
O ângulo escolhido por Mário Divo foi outro. Ou, melhor, ele não usou um só método, mas uma boa quantidade deles. Para isto, lança mão de Afrodite e suas acólitas, de Cupido e seus acólitos, que as há e que os há muitas e muitos. As forças básicas são primitivas, estiveram presentes nos primeiros tempos do homem, quando Afrodite gerou Eros e os deuses dividiam os terrenos em que agiriam.
No meio dos poderes atribuídos a cada figura divina, os do amor e da paixão preponderavam sobre os outros. Desde o começo foi difícil equilibrar corpo e espírito, a paixão entrava soberana em deuses e mortais. O próprio Zeus, preocupado com a paz no Olimpo, viu que Eros, filho de Afrodite, causaria tumultos em toda a parte, com sua seta que levava o amor a quem por ela fosse atingido. Afrodite escondeu Eros no bosque, onde passou a ser alimentado por animais selvagens.
Mário Divo faz a união deste início do Amor e da Paixão com toda espécie de acontecimentos, seja os da vida comum seja os do Olimpo.
Falando sobre Eros, disse Sófocles: "De ti nenhum dos mortais é capaz de fugir, nenhum dos homens que só duram um dia. Aquele que te possui enlouquece."
Ao mesmo tempo em que vai enumerando os entidades ligadas ao Amor e à Paixão no mundo antigo, apresenta Mário Divo uma série de conselhos sobre como deve o apaixonado tratar o seu amor. O livro pega também o "Kama Sutra" da Índia, em que há conceitos de Kama (amor e prazer) em suas ligações com os dois outros lados do ser humano, os deveres espirituais e religiosos de um e o bem-estar social do outro.
Sob a ótica de Mário Divo, deixa a Paixão de ser também sofrimento, ou melhor, o autor usa a ternura para aplacar os excessos amorosos.
Autores passam pelas páginas de Mário Divo, com Sófocles e seu personagem Édipo, destinado a matar o próprio pai, o que vem mesmo acontecer, com Édipo se casando com Jocasta, sua mãe. E que outra história realça mais a força do amor do que toda paixão de Páris por Helena e de uma guerra que levou os helenos a Tróia? Entre uma volta ao passado e um argumento a mais a favor da Paixão, insere o autor uma frase sobre o modo carinhoso como os apaixonados de hoje devem agir perante a bem-amada. Mas também as guerras entre povos devem ser deixadas à parte porque interferem no relacionamento normal entre seres da mitologia ou representantes da raça humana.
Sendo uma história do amor, promove também um levantamento de muitos livros, acontecimentos e personagens que, dos tempos do mito e da lenda até hoje, falam no amor e buscam entender-lhe os mistérios. Nesse labor, surgem os temas básicos do homem e da mulher em seu viver a vida e perpetuá la.
A poesia foi, em todos os tempos, a voz do amor e, com seus versos cheios de Paixão, registrou os momentos mais altos do avanço das gentes por este vale tido por muitos como sendo de lágrimas. As narrativas amorosas dão testemunho do modo como foi o amor vivido e revivido ao longo dos tempos.
Mário Divo enumera as páginas da literatura universal em que o amor foi não só cantado mas também elevado ao primeiro plano das manifestações do talento de homens como Dante, que se inspirou na figura de Beatriz para criar um obra-prima. Assim, de Louise Labé (1522-1566), escritora francesa de histórias eróticas, que mostrou como a Paixão revoluciona todo o corpo, até Colette (1873-1954) e Florbela Espanca (1894-1930), escritoras que exaltaram perdidamente o amor, o autor registra de que maneira os apaixonados têm vivido esses momentos de exaltação.
Em face dos textos em que rememora o amor de outrora e as páginas literárias que o louvam, Mario Divo apresenta, página por página, concomitantemente, textos de agora.
Exatamente hoje, das 19h às 21h , apresenta Mário Divo seu "52 e ½ semanas de amor" no Espaço Cultural Maurício Valansi à Rua Martins Ferreira, 48, em Botafogo. Lançamento da MDM, capa de Inah de Paula.
Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro) 21/12/2004