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Um Senado sem Tuma

 

O Senado, dizia Milton Campos, é uma Casa em que, além da convivência política, por sermos poucos e passarmos muitos anos juntos, se criam relações de amizade e de afeto que muitas vezes se transformam quase em irmandade.

No Senado do Império, que era vitalício, há a célebre sentença do marquês de Abrantes, que, presidindo uma sessão e começando uma altercação entre senadores, advertiu: “Nada de brigas, vamos lembrar que temos de viver juntos a vida inteira”.

O senador Tuma era uma dessas figuras que cultivava a boa convivência, sempre disposto a colaborar para manter um bom ambiente dentro das sessões e sempre disposto a evitar divergências. Era um homem bom, querido pelos colegas e pelo funcionalismo da Casa, que tratava com carinho e deferência.

Com a saúde abalada, o coração sustentado pelo seu amor ao trabalho, não recusava tarefa, nem aquelas de cerimonial e representatividade, comparecendo a todas as solenidades e reuniões que dissessem respeito aos trabalhos ou ao prestígio de Senador.

Corregedor da Casa desde a criação do cargo, sua experiência profissional fazia com que as questões fossem tratadas e resolvidas sem sensacionalismo. Era um policial com alma de frade, cumprindo seus deveres silenciosamente.

Tratava diariamente de todos os assuntos da pauta, aprofundando-se no estudo das matérias, sendo um trabalhador infatigável. Marcava sua personalidade ter sido delegado quando Lula foi preso e ele deu um jeitinho brasileiro, com um toque de bondade, para permitir que Lula fosse ao velório de sua mãe, a quem era ligado pela vida de sofrimentos e de lutas.

O presidente Lula reconheceu ter sido tratado com humanidade pelo delegado Tuma.

Quando fui presidente da República, convidei-o para diretor da Polícia Federal. Não tive nenhum problema com aquele órgão, que agiu sem truculência nem perseguição a quem quer que fosse, amigos ou adversários do governo, agindo sempre dentro da lei.

Tuma não tinha inimigos nem adversários no Senado, e sua morte foi sentida e lamentada por toda a Casa, como raramente acontece nestes momentos de perda. Com ele mantive, desde o tempo em que trabalhamos juntos, uma estreita amizade.
Devo-lhe o carinho e a atenção de sua generosidade sempre presente, inclusive nos momentos mais difíceis. Perdemos um senador dos mais eficientes do Senado, e eu, pessoalmente, um amigo a quem admirava pelas suas virtudes pessoais, morais e humanas.

Ele fará grande falta ao Senado e deixa lacuna que vai nos custar muito a preencher.

Folha de São Paulo, 29/10/2010