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Um ritual extraterreno na amazônia

 

Um grande livro que eu não imaginava fosse passar em brancas nuvens, mesmo que tenha merecido resenha na Ilustrada, na Folha, no ano de sua publicação, em 2019, foi "A Morte e o Meteoro" (Todavia), de Joca Reiners Terron.

Confesso que achei admirável o silêncio que se seguiu à publicação e à circulação dessa obra premonitória, profética mesmo, do que passaria a marcar o assédio sofrido pela região amazônica.

A fronteira entre Peru, Colômbia e Venezuela é o cenário desse romance escrito com maestria e conhecimento da presença de povos originários na parte mais preservada da bacia amazônica, onde vive em autoisolamento o povo kaajapukugi, etnia inventada pelo autor —com sua cosmogonia e seus mitos tão convincentes na sua descrição etnográfica, me fez lembrar do romance "Maíra", em que Darcy Ribeiro cria o povo mairum para povoar sua história. O autor Joca Reiners Terron, nesse verdadeiro thriller, nos lança a décadas futuras, entre os anos 2045 e 2050, quando conflitos resultantes da disputa pelas riquezas naturais da região Norte do nosso país já alcançaram o clímax da destruição das florestas.

Essa paisagem que evoca o Vietnã sob bombardeio químico, passando por guerras de destruição total, milagrosamente ainda guarda esse povo kaajapukugi, com suas práticas rituais tão singulares e que pode dar sinais de contatos com extraterrenos ou viagens espaciais. Misteriosas rotinas noturnas, que juntam todos esses nativos em rituais na fantástica "ilha de floresta" onde vivem e que propicia o isolamento da tribo, vão descortinar um enredo de aventura de tirar o fôlego do leitor.

Pensei no livro de Joca vendo a crescente pressão do presidente Trump sobre países da região amazônica, com foco na Venezuela, mas com implicações em sua vizinha, Colômbia, na lista de potencial opositor passível de retaliações. O cerco econômico e militar já endereçado ao país vizinho deveria pôr o Brasil em alerta nessa fronteira, mesmo com a história de convivência pacífica entre os integrantes da bacia amazônica.

Folha de São Paulo, 13/09/2025