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Um Frankestein bonito

 

Dois professores mal-humorados da Unicamp publicaram, sob o título Frankenstein volta às aulas, um artigo no mínimo injusto sobre a nova Secretaria de Estado de Ensino Superior de São Paulo. Queremos crer que, no fundo, buscavam também atingir o seu titular, professor e médico José Aristodemo Pinotti, figura estelar da cultura brasileira. Afirmam, com a maior sem-cerimônia, que a instituição é um "baú de idéias anacrônicas". A expressão é forte e, com certeza, preconceituosa.


Os articulistas enxergam maledicência nas intenções reveladas e até se referem a "manobras diversionistas e demagógicas", abusando claramente do seu direito à liberdade de expressão. O professor Pinotti defende mudanças no sistema de ensino superior - e onde está o pecado em proclamar isso? Hoje, o número de alunos nas escolas de 3º grau ficou estagnado, sem claras perspectivas de alterações de porte.


As declarações oficiais, que vêm de Brasília, acenam com um PAC-Educação, para quatro anos, com investimentos de R$ 8 bilhões. Isso, sim, parece o sonho de uma noite de verão na Capital da República. De onde sairá esse dinheiro, que teria, entre outros devaneios, o condão de criar mais 100 universidades oficiais, como se aí estivesse o problema. Sobram vagas nas escolas públicas, muito mais vagas nas escolas particulares. De onde sairá o público para freqüentar os hipotéticos cursos preferencialmente noturnos dessa promessa meio sem sentido?


E mais: o Brasil vive endividado, trata as empresas de forma escorchante (inédita no mundo) e tem uma previdência social insolúvel. Seria uma boa preocupação dos verdadeiros educadores debater sobre os recursos financeiros prometidos, embora se diga que já temos R$ 500 milhões para o projetão.


Não podemos esquecer a Educação Infantil, tão desamparada, e projetos de ajuda aos candidatos a exames vestibulares,muitos dos quais não suportam os pesados encargos dos cursinhos espalhados por aí. Todas essas providências, que se encontram no espírito e na alma do novo Secretário de Estado de Ensino Superior, de olhos postos no futuro imediato de implantação também da TV Digital, que oferecerá quase infinitas possibilidades à educação brasileira, com os faróis acesos na interatividade e na alta definição.


Onde, pois, a visão retrógrada do que se pretende fazer? Hoje, bons profissionais são chamados de "conservadores". Pode-se transferir esse estigma não para os homens que se preocupam com a qualidade das novas políticas, mas para aqueles que, à falta do que comentar, segundo uma visão estreita, vêm monstros à sua frente. Aliás, vale recordar que se o Frankenstein tivesse mãe, certamente ela o acharia lindo.


Jornal do Commercio (RJ) 23/3/2007